terça-feira, 15 de maio de 2012

Pesquisadores da Uema fazem monitoramento dos peixes da baía de São Marcos


Exemplar de Sciades herzbergii - em cima/ Exemplar de Bagre bagre - embaixo
Exemplar de Sciades herzbergii - em cima/ Exemplar de Bagre bagre - embaixo
Os impactos ocasionados pelo crescente movimento de navios do Complexo Portuário da Ilha de São Luís não passaram despercebidos por alunos e professores do Curso de Ciências Biológicas (CCB) da Universidade Estadual do Maranhão (Uema). Por essa razão é que o Grupo de Pesquisa em Ecotoxicologia (GP-TOX) vinculado ao Laboratório de Pesca, Biodiversidade e Dinâmica Populacional de Peixes (LabDPP) tem estudado a dinâmica das interferências ambientais na fauna de peixes estuarinos causadas pelos poluentes deixados na costa de São Luís.
 
Um dos trabalhos, intitulado “Biomarcadores de contaminação aquática em peixes de importância comercial na Baía de São Marcos, Maranhão”, de autoria da aluna bolsista de iniciação científica do CNPq Débora Batista Pinheiro Sousa, é continuação da pesquisa desenvolvida pela professora Raimunda Nonata Fortes Carvalho Neta em sua tese de doutorado, cujos estudos começaram em 2006. Tal projeto pretende analisar características biológicas dos peixes Bagre ‘Guribu’ (Sciades herzbergii) e ‘Bandeirado’ (Bagre bagre) modificadas por conta da poluição do habitat natural.
Gonâdas de uma fêmea de  Sciades herzbegii. A) Gônadas B) Ovócitos

LEGENDA FIGURA 2:Gonâdas de uma fêmea de  Sciades herzbegii. A) Gônadas B) Ovócitos
“Há poucas informações sobre a qualidade do pescado que chega à mesa do consumidor em São Luís. Por isso, sentimos a necessidade e obrigação de fazer um monitoramento ambiental capaz de detectar os efeitos dos poluentes nessas espécies de peixes que são capturadas em regiões com forte pressão antrópica. A partir daí, podemos subsidiar programas de manejo e vigilância sanitária”, ressaltou Débora Batista.
Para fazer as análises, foram recolhidas amostras de brânquias e fígado dos peixes Bagre ‘Guribu’ e ‘Bandeirado’ tanto da área de influência do Complexo Portuário (área modificada) como da Ilha dos Caranguejos (Unidade de Conservação Estadual, área de referência a 30km do Complexo). Em cada região, registraram-se fatores como salinidade, temperatura, PH e oxigênio dissolvido com objetivo de ver se as áreas eram idênticas em termos ambientais.

Ao serem comparados, de acordo com a pesquisa, os dados de comprimento total e furcal foram sempre maiores para os peixes amostrados da área de referência (Ilha dos Caranguejos), existindo diferença estatística significativa em relação aos da área Portuária. Além disso, no que condiz aos ciclos de vida do bagre, são esperados quatro estágios, no entanto, nas amostras retiradas foram identificados apenas dois estágios referentes à fase de crescimento, não sendo encontrados indivíduos juvenis nem organismos que já haviam realizado desova.

Nas brânquias foram observadas uma série de alterações morfológicas que dificultam a respiração nos peixes. Tais alterações foram atribuídas à poluição com a qual os peixes tiveram contato na região portuária. Essa situação não foi registrada para os espécimes da Ilha dos Caranguejos. Os estudos hepáticos para validar lesões ainda estão sendo desenvolvidos. A pesquisadora Débora Batista acredita que “pelas análises químicas da água, essas alterações são reflexo da presença de metais pesados (chumbo; alumínio), hidrocarbonetos policíclicos aromáticos (encontrados no petróleo) e compostos fenólicos (oriundos de várias substâncias, entre elas fertilizantes) na água. Através dessas modificações que sofrem, esses peixes podem ser utilizados como bioindicadores dos impactos e problemas na área do Porto do Itaqui”.
A) Brânquias normais; B, C e D) Alterações

LEGENDA FIGURA 3: A) Brânquias normais; B, C e D) Alterações

Durante o doutorado da professora Raimunda Fortes, o bagre ‘Guribu’ já havia sido validado como bioindicador por ter todo o ciclo de vida na Baía de São Marcos e um modelo matemático foi proposto para correlacionar lesões branquiais e atividade enzimática nessa espécie. O bagre ‘Bandeirado’, que não foi abordado na pesquisa da professora, tem sido investigado no projeto de iniciação científica da aluna Débora Batista e tem mostrado que não apresenta as características para ser um bioindicador como o peixe Bagre Guribu, pois pode ter adquirido contato com poluentes em outras regiões, tendo em vista que é um animal migrante marinho.

“Sabemos que muitas coisas são neglicenciadas, por isso pensamos em criar novas metodologias de baixo custo para monitoramento da área, capazes de trazer respostas rápidas, usando o estudo biológico juntamente com a análise química”, comentou Débora Batista, que pretende continuar a pesquisa no mestrado e também fazer dela um projeto de extensão. E completou: “Queremos divulgar o resultado das pesquisas para os pescadores, assim teremos um trabalho conjunto com eles. Pretendemos fazer cartilhas e folders para levar para o Porto; dar palestras; entre outros. Vamos fazer, realmente, um monitoramente da qualidade do pescado na região”.

Além disso, o grupo de pesquisa da área de ecotoxicologia tem investido em publicações e está estudando as possibilidades de parcerias com outras Universidades. Recentemente, dois artigos sobre o tema foram aceitos pelo ‘Latin American Journal of Aquatic Research’ e devem ser publicados em julho. “Recebemos todo o apoio da Uema nessa caminhada e não estamos medindo esforços para conseguirmos, no futuro, um Programa de Pós-Graduação para a Universidade”, afirmaram as pesquisadoras.

Ascom - Camila Boullosa
http://www.uema.br

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