segunda-feira, 14 de junho de 2010

Pesquisadores encontram sítios arqueológicos em Carutapera (MA)

Técnicos do Centro de Pesquisa e História Natural e Arqueologia (CPHNAMA), órgão da Secretaria de Estado da Cultura (Secma), descobriram nas últimas semanas vestígios de um importante sítio arqueológico em Carutapera, no litoral oeste maranhense, na divisa com o estado do Pará, a 570 quilômetros de São Luís. No local, foram encontrados afloramentos minerais que comprovam a existência de comunidades primitivas. Os achados comprovam indícios da existência de oficinas líticas (pedras graníticas com sinais de antigas civilizações indígenas) em diversos pontos no município.


A visita dos técnicos ao município estava prevista no Inventário e Cadastramento de Sítios Arqueológicos do Maranhão, projeto do Centro de Pesquisa. "Tínhamos conhecimento da existência de recursos arqueológicos na localidade e pudemos recolher mais informações com antigos moradores. Assim, chegamos aos locais onde foram identificados os sítios", conta o diretor do CPHNAMA, o arqueólogo Deusdédit Carneiro Leite Filho.
Por meio da investigação, os pesquisadores puderam se deslocar aos pontos em que estão localizados os afloramentos rochosos, as pedras que serviram de instrumentos para a produção e acabamento de utensílios que eram utilizadas em atividades cotidianas. "São os conhecidos machados feitos em pedra para cortar alimentos, na caça e também na guerra e na realização de rituais religiosos", explica Deusdédit Filho.

O diretor do Centro de Arqueologia diz que ainda não é possível precisar o período correspondente à existência dos grupos humanos que deixaram os vestígios. Pelas características preliminares, ele estima tratar-se de um sítio de 5 mil anos. “Faremos estudos arqueológicos mais detalhados da área para ter certeza”, afirma Deusdédit Filho.

As análises iniciais sugerem que grupos indígenas tinham a área como habitação. "Podemos dizer isso com base no fato de que os afloramentos encontrados serem fixos, ou seja, são blocos de pedras presos ao chão", explica o diretor do CPHNAMA.

Os blocos de pedra a que se refere Deusdédit Filho são de formação granítica, bastante resistente, o que permite a sua utilização para a produção e acabamento de utensílios como machados. As marcas, esses afloramentos graníticos chamaram a atenção dos moradores que deram às marcas denominações curiosas. Uma dos sinais eles distinguem como "palma de uma mão com dedos", os arqueólogos identificam como sendo linhas deixadas pelo processo de amolamento e acabamento da lâmina de pedra que compunha o machado. Para amolar, os habitantes primitivos da região utilizavam areia, água e argila.

Levantamentos - Segundo o diretor, quando a equipe se deslocou para Carutapera, a idéia inicial era pesquisar arte rupestre, descrita pelo antropólogo Darcy Ribeiro, quando realizou uma visita ao local e à área do Turiaçu-Gurupi. "Esses registros, entretanto, não foram encontrados. Talvez estejam localizados no Médio Gurupi, em uma região de mais difícil acesso", sugere.

Em setembro, novas pesquisas devem ser realizadas em Carutapera. O arqueólogo diz que será realizado um levantamento mais detalhado. "Iremos tentar estabelecer, com estudos mais avançados, a correlação de grupos que faziam uso dos afloramentos rochosos da região, bem como elaborar uma política de preservação da área, o que será feito junto ao IPHAN [Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional]", declara.
A área que compreende o município de Carutapera foi ocupada por diversos grupos primitivos. Eles utilizavam técnicas de produção de artefatos líticos nas atividades cotidianas. Os índios Carus - de onde deriva o nome Carutapera - também ocuparam a região. "Mas há indícios que, antes deles, outros grupos estiveram na área", explica Deusdédit Filho.
Mais:

As características físicas da região foram fundamentais para o desenvolvimento das oficinas líticas. Carutapera está assentada em um complexo cristalino (rochas metamórficas). Isso, inclusive, fez com que os habitantes se fixassem na região, pois não precisavam carregar as pedras para confeccionar seus artefatos. O diretor do Centro de Pesquisa diz, ainda, que existem outros locais no Maranhão com características físicas semelhantes. Exemplos são os rios Turi e Grajaú.

Artefatos confeccionados no local eram comuns. Uso se dividia entre atividades cotidianas e rituais religiosos.

Os machados produzidos nos afloramentos cristalinos de Carutapera são comuns em diversas regiões do Brasil. Isso porque os grupos humanos que ocuparam inicialmente o território eram caçadores e coletores. "E conhecer as técnicas de lascamento lítico permitia a confecção desses artefatos, úteis na obtenção e preparo de alimentos", explica a arqueóloga Eliane Leite, pesquisadora do Centro.

De acordo com Eliane Leite, não existe uma explicação científica para o surgimento desses artefatos líticos. Mas há diversas interpretações populares para o fenômeno. Na Baixada maranhense, por exemplo, circulam crenças de que os machados sejam lançados diretamente do céu, juntamente com os raios em dias de tempestade. "Eles dizem que os machados ficariam enterrados a sete palmos do solo, de onde aflorariam gradativamente, um palmo a cada ano", completa a arqueóloga.

Deusdédit Filho ressalta que há duas categorias de machados. Uma delas eram os utilitários usados para caça, corte e esmagamento. O outro tipo tinha caráter religioso. Em formato semilunar, eram utilizados em rituais. "Inclusive no abate de inimigos", diz.

Com a chegada de europeus ao território, os machados foram utilizados como instrumentos de troca. Os visitantes recebiam os de pedra e davam aos habitantes da região os que eram produzidos a partir do ferro, mais eficientes no corte e que logo fizeram sucesso entre os nativos. Por essa razão, os machados, tanto de ferro dos europeus, quanto líticos dos grupos primitivos, podiam ser encontrados em diversos locais.

Saiba mais

Carutapera, município maranhense, tem população (estimada em 2004) de 20.030 habitantes. Localiza-se na foz do rio Gurupi. No município, ocorre uma das maiores e mais populares festas do litoral norte do Maranhão: a festa do padroeiro da cidade, São Sebastião.

Por: O Estado do MA
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