Nações Unidas, 7/5/2012 – As mudanças demográficas que ocorrem no mundo e o consumo sem precedentes que as acompanha colocam o planeta em perigo, alerta um novo estudo divulgado às vésperas da Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável (Rio+20). Pouco antes da Cúpula da Terra, realizada em 1992 no Rio de Janeiro, algumas nações industrializadas, e especificamente os Estados Unidos, foram criticadas por consumirem em um nível obsceno os recursos finitos do planeta, entre eles alimentos, água e energia. O consumo insustentável destrói gradualmente o mundo, alertavam ambientalistas naquela ocasião.
O então presidente dos Estados Unidos, George Bush (1989-1993), respondeu a esses argumentos com uma famosa declaração: “O estilo de vida norte-americano não se negocia. Ponto”. A mensagem, um ataque diplomático preventivo por parte de Washington, ecoou por toda a cúpula de líderes mundiais, cujo plano de ação para o Século 21 praticamente evitou este candente assunto político.
Agora, 20 anos depois, a Organização das Nações Unidas (ONU) voltará a centrar-se na população, no consumo e no meio ambiente na Rio+20, que acontecerá de 20 a 22 de junho no Brasil. A previsão é que deste encontro surja um novo plano de ação para uma economia mais verde e um futuro sustentável. Agora, o estudo People and the Planet (As Pessoas e o Planeta), destaca as mudanças rápidas e generalizadas na população mundial e o consumo sem precedentes que ameaça o bem-estar do planeta.
Elaborado pela britânica Royal Society, instituição científica com 352 anos de história, o informe diz que a capacidade da Terra para atender as necessidades humanas é finita. Contudo, como serão focados os limites depende das opções sobre estilos de vida e o consumo associado. E isto, por sua vez, depende do que se usa e como, e do que se considera essencial para o bem-estar humano. Isaac Newton, Charles Darwin, James Watson e Albert Einstein foram alguns dos prestigiosos nomes que fizeram parte da Royal Society.
Ao apresentar o estudo, no dia 2, em nome dessa entidade, o Nobel de Medicina 2002, John Sulston, afirmou aos jornalistas que existe um forte vínculo entre população, consumo e meio ambiente. As economias industrializadas e as emergentes devem reduzir com urgência o consumo insustentável dos recursos, alertou. Uma criança nascida no mundo rico consome entre 30 e 50 vezes mais água do que uma nascida no mundo pobre, exemplificou. O aumento do “consumo material” envolve alimentos, água, energia e minerais, explicou.
Como diz o informe, estes recursos respondem às necessidades mais básicas de sobrevivência, que algumas pessoas não têm atendidas em várias partes do mundo. Em contraste, o alto consumo material que se vê em muitas áreas “pode acabar levando à perda de bem-estar para o consumidor e, em um mundo desigual com recursos finitos, também causar privações a outros”.
O Século 21 é um período crucial para a população e para o planeta, afirma o estudo, destacando que a população mundial, que em 2011 chegou aos sete bilhões de pessoas, alcançará entre oito bilhões e 11 bilhões até 2050. O excessivo consumo entre os mais ricos contrasta com o que acontece com o 1,3 bilhão de pessoas mais pobres do mundo, que necessitam consumir mais para poderem sair da indigência.
O estudo propõe que a combinação entre maior população mundial e maior consumo material generalizado tem implicações para um planeta finito. Como ambos seguem aumentando, os sinais de impactos não desejados (como a mudança climática que reduz os rendimentos dos cultivos em algumas áreas) e de modificações irreversíveis (como uma extinção maior de espécies) se multiplicam “de modo alarmante”.
A mudança demográfica está pautada pelo desenvolvimento econômico e por fatores sociais e culturais, bem como pelas alterações ambientais. Em vários contextos socioeconômicos muito diferentes, se produziu uma transição de alta para baixa natalidade e mortalidade, aponta o estudo. E países como Irã e Coreia do Norte atravessaram as fases desta transição muito mais rapidamente do que a Europa ou América do Norte.
Até 2050, os países em desenvolvimento estarão construindo o equivalente a uma cidade com um milhão de habitantes a cada cinco dias, prevê o estudo. E o crescimento rápido e contínuo da população urbana tem uma acentuada influência em estilos de vida e condutas: como e o que consomem, quantos filhos têm, que tipo de trabalho desempenham. O planejamento urbano é essencial para evitar a propagação de favelas, altamente nocivas para o bem-estar de indivíduos e sociedades, indica a pesquisa.
Entre uma série de recomendações, o estudo exorta a comunidade internacional a tirar da indigência o 1,3 bilhão de pessoas que vivem com menos de US$ 1,25 por dia, e também a reduzir a desigualdade que persiste no mundo. Além disso, as economias industrializadas e as emergentes devem se estabilizar e depois reduzir o consumo material mediante drásticas melhorias na eficiência do uso de seus recursos.
Isto inclui produzir menos lixo, investir em recursos sustentáveis, tecnologias e infraestrutura e também desvincular sistematicamente a atividade econômica do impacto ambiental. Os programas de saúde reprodutiva e planejamento familiar voluntário também exigem com urgência uma liderança política e um compromisso financeiro, tanto no plano nacional quanto no internacional. A população e o meio ambiente não deveriam ser considerados dois assuntos separados, destacam os especialistas.
“As mudanças demográficas, e as influências que operam sobre eles, deveriam, ser consideradas no debate e no planejamento econômico e ambiental nas reuniões internacionais, como a Rio+20 e outras posteriores”, acrescentam. Os governos também deveriam se dar conta do potencial da urbanização para reduzir o consumo material e o impacto ambiental por meio de medidas de eficiência.
Para cumprir os objetivos acordados sobre educação universal, os políticos de países com baixa assistência às escolas têm que trabalhar com financiadores e entidades internacionais, como Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura, o Fundo de População das Nações Unidas e o Fundo das Nações Unidas para a Infância, além do Fundo Monetário Internacional e do Banco Mundial, conclui o estudo.
por Thalif Deen, da IPS
Envolverde/IPS
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