quarta-feira, 21 de março de 2012
Dia Mundial da água
Na semana passada eu havia prometido aos leitores deste espaço que neste sábado eu iria fazer algumas reflexões sobre a nossa Capital. Contudo, em função das atribulações que ando envolvido na conclusão do meu livro, acabei esquecendo uma data importante e que não pode passar despercebida pela importância do tema. O “Dia Mundial da Água” que ocorrerá no dia 22 de março.
As reflexões sobre São Luis já estão praticamente prontas, mas eu pediria aos leitores a paciência para esperarem até o próximo sábado, 24 de março quando, em definitivo, as apresentarei.
A água é fundamental para a vida. Não haveria chance alguma de qualquer ser vivo existir se não houvesse água. O nosso organismo é composto quase todo de água. Os animais, os vegetais, toda a vida do planeta precisa de água circulando no seu sistema interno. Do mais complexo ao mais singelo organismo, sem água, nada feito!
Os vegetais são os únicos seres vivos capazes de transformar os minerais em vida. Somente executam esta função vital na presença do calor emitido pela luz do sol, pela captura do gás carbônico da atmosfera e, utilizando a umidade que advém desse liquido precioso, chamado de água. Sem ela, portanto, não há vida na terra.
Os Relatórios de Desenvolvimento Humano (RDH) das Nações Unidas são publicados anualmente no verão do hemisfério norte. Nos RDH é que são divulgados os índices de desenvolvimento humano (IDH) dos países. São documentos densos. Os mais recentes nunca têm menos de quatrocentas páginas, das quais, a metade, são tabelas, em que se disponibilizam indicadores de qualidade de vida dos países filiados à ONU.
Na outra metade do RDH são apresentadas reflexões interessantes de acadêmicos que elaboram textos apenas teóricos, ou também ancorados em fartas bases empíricas. Os RDH são temáticos. O Relatório de 1997, por exemplo, tratou apenas de pobreza no mundo. O Relatório de 2006 é dedicado, inteiramente, à avaliação dos efeitos do acesso (ou da privação) de água e do saneamento ao desenvolvimento.
Naquele documento pode-se ler a seguinte passagem: “Água e saneamento estão entre os mais poderosos medicamentos disponíveis pelos governantes para reduzir doenças. Investimentos nessas áreas eliminarão males como diarréia, salvando vidas.”.
A privação do acesso a esse bem precioso é uma das causas de mortalidade infantil e de aceleração da morte de idosos. Com efeito, no RDH de 2006 também se pode ler o seguinte: “A privação ao acesso de água e saneamento produz múltiplos efeitos, que incluem os seguintes custos para o desenvolvimento humano: i – algo como 1,8 milhões de crianças morrem anualmente vitimadas por diarréia….Juntos, água não potável e deficiência em saneamento se constituem na segunda causa de morte de crianças; ii – Perda de 443 milhões anuais de dias de escola em razão de doenças relacionadas com a ingestão de água contaminada; iii- Aproximadamente metade da população dos países menos desenvolvidos experimenta problemas de saúde causados por deficiência de acesso à água potável e ao saneamento adequado.”
Nos países menos desenvolvidos e, dentro desses países, as áreas mais pobres, as maiores carências não são apenas de renda monetária, mas de acesso à água de qualidade. Em suas áreas rurais, na divisão do trabalho das famílias, sobra para as mulheres o provimento de água para dentro de casa. Elas trazem nas cabeças, não raro, de longas distancias, a água que servirá de beber e para o cozimento da pouca comida que as famílias conseguem garimpar. “Milhões de mulheres alocam diariamente muitas horas do seu tempo coletando e trazendo água para casa.” (RDH,2006).
Dos 5.564 municípios contabilizados pelo Censo Demográfico para o Brasil em 2010, a privação de água de qualidade atingia entre 40% a 100% dos domicílios, em 1.716 deles. A grande maioria situada nas regiões Nordeste e Norte. Nas áreas rurais brasileiras a situação chega a ser de calamidade. De acordo com a última PNAD do IBGE, no ano de 2009, não havia acesso à água de qualidade em 67,2% dos domicílios rurais brasileiros. O Norte, que é região brasileira mais bem dotada de reservatório de água doce do planeta, paradoxalmente, detém o maior percentual da população rural privada de água de qualidade. Nada menos do que 76,6% da população daquela região sobrevive em domicílios que não tem acesso à água tratada. Água em abundancia, portanto, não é suficiente. Precisa não ser contaminada para ser vetor de vida.
O “Dia Mundial da Água” serve para fazer este tipo de reflexão. O problema da falta de água de qualidade é imediato. Não há tempo a esperar para ser solucionado.
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Por; José Lemos
*Artigo publicado no Jornal O Imparcial em 17-03-2012.
http://bequimaoagora.wordpress.com/
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