José Raimundo Campelo Franco[2]
RESUMO
O trabalho em tela propõe um estudo sobre os mecanismos funcionais do
conjunto lacustre interativo ao conjunto fluvial dos rios Pindaré e
Mearim, no qual é enfocado o funcionamento e os elementos dinâmicos e
estruturais do ambiente, pondo-se em relevo os fatores de ordem
hidroclimáticos responsáveis pelos movimentos de inundação e o
componente humano na sua busca da satisfação de suas necessidades. A
importância dessa investigação está na construção de novos conhecimentos
e informações que poderão subsidiar o planejamento ambiental e urbano,
fortalecer o aporte didático dos conteúdos da geografia do Maranhão e
nortear novas pesquisas no âmbito da Baixada Maranhense. Os processos
metodológicos foram utilizados à base de interpretação e processamento
de imagens de satélites em SIG, técnicas de análise do Conhecimento
Tradicional Ecológico e das teorias geográficas que regulam as relações
entre a sociedade e a natureza. A partir do arcabouço teórico, foi
formulado o modelo conceitual principal que corroboram para à
compreensão dos ambientes lacustres que formam o Sistema Lacustre
Pindaré-Mearim – SLPM como um todo. Outras bases conceituais foram
criadas, adaptadas ou redimensionadas a partir de considerações
clássicas ou de novas concepções da geografia contemporânea em sua visão
unitária que analisa os fenômenos físicos vinculados às sociedades
humanas. Desta forma o Conhecimento Tradicional Ecológico e o trabalho
técnico de processamento e interpretação de imagens de satélites foram
instrumentos definitivos na sistematização dos modelos conceituais e na
tradução da dinâmica sistêmica. A área de estudo se mostrou rica em sua
biodiversidade, diversificada em suas paisagens e ampla em seus recursos
naturais, principalmente os hídricos, porém, mostrou-se carente de
iniciativas políticas que revejam os efeitos das interferências
ambientais deletérias aos sistemas lacustres e os conflitos sociais
decorrentes.
Palavras-chave: Lagos. Conhecimento Ecológico Tradicional. Sistemas. Geografia do Maranhão.
1 INTRODUÇÃO
O
desenvolvimento das populações humanas está relacionado com a
utilização de recursos naturais, tendo-se a água doce como um desses
principais recursos. O acelerado crescimento populacional tem submetido
os recursos hídricos e seus sistemas ambientais associados a uma
utilização cada vez mais intensiva. Outro fator que tem contribuído para
a pressão sobre os recursos hídricos é o crescimento tecnológico que
trouxe implicações na expansão dos setores produtivos, a criação de
novas necessidades e na vertiginosa expansão urbana.
No
Brasil as águas doces vêm sendo comprometidas pela perda da qualidade e
da quantidade de água disponível para captação e tratamento. Somam-se a
este descaso a contaminação por metais pesados, agrotóxicos, despejos
domésticos e industriais. No Maranhão a modificação da estrutura natural
dos solos e das florestas tem ocasionado alterações profundas na
diversificada rede hidrográfica.
A
Baixada Maranhense que se apresenta como uma área úmida com semelhanças
comuns aos ecossistemas do Pantanal Matogrossense e da Região
Amazônica, vem sofrendo com as alterações antrópicas promovidas ao longo
dos recursos naturais.
Considera-se
a Baixada Maranhense uma região úmida que, por meios de uma série de
fatores naturais, apresenta-se sobre um terreno relativamente rebaixado e
exposto à ação direta das inundações periódicas de uma rica e
diversificada rede fluvial, que, ao longo de seus processos dinâmicos
estendidos em ciclos anuais, promove uma extraordinária combinação de
ambientes e paisagens.
Sua área de localização que se expressa como uma extensa depressão
estacionária das águas fluviais, sua gênese geológica originada de
perturbações tectônicas do Quaternário e a sua topografia mais ou menos
plana e de poucos contrastes, são os principais condicionantes físicos
que denotam as fascinantes paisagens naturais da Baixada. Conta-se
ainda com a combinação de um aglomerado hídrico mesclado de lagos, rios,
enseadas, campos inundáveis e regiões estuarinas e de um conjunto
geoespacial formado por terras firmes onde se destacam acidentes
geográficos distintos, como ilhas, penínsulas, pontas, estreitos e
pequenos morros.
O
trabalho em tela busca analisar aspectos funcionais da região de lagos
paralela à margem esquerda dos rios Pindaré e Mearim a partir das
condições estruturais do ambiente e da relação socioambiental de
produção do espaço geográfico. Para isso, são feitos mapeamentos da rede
hidrográfica lacustre em suas delimitações e seus componentes de
drenagem, elaborações de modelos sazonais que explicam o funcionamento
da região dos lagos em relação à região da Baixada Maranhense, ao Golfão
Maranhense e a outros sistemas associados.
Este
estudo vem contribuir com a Geografia do Maranhão quando propõe uma
base conceitual e sistêmica para essa região de lagos que se compõe de
elementos complexos e até o momento se faz bastante carente de estudos
científicos. Outra contribuição relevante deste trabalho é o caráter
preventivo que suscita, mediante a possibilidade de informar as
sociedades da Baixada Maranhense e a comunidade científica da composição
e especificidade dos ambientes hídricos em estudo e dos principais
problemas ambientais deflagrados.
Finalmente,
adicionam-se novos e atualizados conhecimentos aos instrumentos
políticos de gestão administrativa, ao aporte didático dos programas e
conteúdos do ensino de geografia local e regional e também aos
levantamentos científicos relacionados com a realidade da Baixada
Maranhense, que servem como base de estudo à comunidade acadêmica
ascendente na região. Assim, esta nova abordagem poderá nortear novos
estudos e novos elementos de debate, para que assim, estes ecossistemas
estudados sejam melhor entendidos.
2 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
Ao
longo da pesquisa foram realizadas 14 viagens para trabalho de campo em
06 municípios de abrangência do SLPM, sendo estes: Viana, Penalva,
Cajari, Matinha, Olinda Nova do Maranhão e São João Batista, tento-se
totalizado 41 dias de efetivo trabalho de campo durante os anos de 2007 e
2008.
Para
o geógrafo, o uso de modelos é um instrumento de trabalho que deve ser
utilizado na análise dos sistemas das organizações espaciais. A
construção de modelos pode ser considerada como estruturação seqüencial
de idéias relacionadas com o funcionamento sistêmico. O modelo permite
estruturar o funcionamento do sistema, a fim de torná-lo compreensível e
expressar as relações entre os seus diversos componentes.
(CHRISTOFOLETTI, 1985).
As
abordagens direcionadas a partir da geografia ambiental terão um
direcionamento para a visão geossistêmica, quando será explicado o
modelo funcional de inundação da região dos lagos do município de Viana e
dos sistemas ambientais interativos. “A abordagem sistêmica serve ao
geógrafo como instrumento conceitual que lhe facilita tratar dos
conjuntos complexos, como os da organização espacial, (...) além de
propiciar oportunidade para considerações críticas de muitos dos seus
conceitos” (CHRISTOFOLETTI, 1985).
Outra vertente de interpretação a ser considerada são as concepções da
ecologia humana, correspondente ao estudo das populações humanas sob a
ótica da ecologia (BEGOSSI, HANAZAKI & SILVANO, 2002). Tal abordagem
tem sido bastante utilizada pela ciência geográfica, conforme apontam
BEGOSSI (1993) e KORMONDY & BROWN (2202) apud SOUZA (2004).
Dentro desta perspectiva, o modelo de elucidação dos ciclos de
inundação do sistema lacustre estudado foi sistematizado a partir de
duas linhas de análise: o trabalho de interpretação de imagens de
satélites e levantamentos etnoecologicos, que teve por base a compilação
do conhecimento popular auferido das comunidades tradicionais que têm
seus modelos de subsistência regulados a partir do dinamismo das águas
dos ambientes lacustres.
Tal conhecimento é denominado por muitos pesquisadores como
etnoconhecimento. Para MIRANDA (2007) o etnoconhecimento é produzido por
diferentes etnias em diferente locais no globo terrestre a partir do
saber popular. É conhecido também como “Conhecimento Ecológico
Tradicional-CET”, o qual BERKES (1993) apud BARENHO & MACHADO
(2005) define como corpo cumulativo de conhecimentos e crenças,
desenvolvido por gerações e transmitido culturalmente, a respeito das
relações dos seres vivos (incluindo humanos) entre si e com seu
ambiente.
A partir do arcabouço teórico definido, utilizaram-se as seguintes técnicas:
a)
Trabalho de gabinete: revisão bibliográfica; levantamento cartográfico
preliminar; interpretação e geoprocessamento de imagens satélites das
bacias de drenagem; construção de mapas hidrográficos; tabulação,
interpretação, conexão e dissertação de dados coletados em trabalhos de
campo e dos levantamentos etnoecológicos.
b)
Coleta de dados em trabalhos de campo: observação direta; aplicação de
planilhas ao homem do campo, ao trabalhador agrícola que vive nas
cidades e aos pescadores urbanos; conferência de imagens satélites
interpretadas.
O
principal instrumento de coleta utilizado junto às comunidades
tradicionais, foi a Planilha de Análise da Inundação - PAI (Apêndice
01), formulário que levantou informações sobre o comportamento dinâmico
dos ambientes inundáveis, o qual resume dados sobre: informante;
localização regional, influência costeira e frentes de inundação. O
formulário foi aplicado a trabalhadores rurais e urbanos que se mostram
detentores de conhecimentos tradicionais, reconhecidos segundo critérios
determinados na pesquisa.
Em cada lugar visitado, foi definido um subconjunto ou cluster
de pessoas com melhor qualificação possível para fornecer as
informações, levando-se em conta o preenchimento de três pré-requisitos
básicos:
i) Conviver diretamente com a realidade das áreas inundáveis de sua localidade;
ii) Declarar-se conhecedor dos processos dinâmicos das águas, ao ser questionado sobre tal.
iii) Experiência mínima de 20 anos com vivências da realidade das áreas inundáveis onde habita;
Foram utilizados outros instrumentos técnicos como GPS, laptop,
registro fotográfico e blocos de anotações para registro de informações
adicionais sobre os ambientes.
O
modelo numérico de terreno foi produzido a partir de dados SRTM
(Shuttle Radar Topography Mission) disponíveis em MIRANDA (2005), onde
foram utilizados os seguintes procedimentos:
i) Cobertura da área de estudo por duas grades retangulares compostas de dados numéricos;
ii)
Uso de dados SRTM em formato geotiff e resolução espacial de noventa
metros. Foram utilizadas três cartas topográfica DSG de 1:100.000,
referentes as folhas SA.23-Y-B-VI MI 547 (Pinheiro), SA.23-Y-D-III MI
608 (Penalva), SA.23-Z-C-I MI 609 (Arari);
iii) Geração das curvas de níveis com cotas altimétricas eqüidistantes 10 metros ;
iv)
Refinamento com eliminação de eventuais fragmentos de linhas, ilhas
diminutas, cruzamentos de linhas inadequados e junção de linhas de mesma
cota geradas em grades distintas.
Na construção do modelo de inundação foi construído um croqui com o uso
dos programas da Microsoft Oficce Imaging e da Google Earth Versão 4.3 e Posterior, os quais foram utilizados:
a) Cartas DSG de 1:100.0000 anteriormente citadas;
b) Imagens de satélites Ladsat: TM5 bandas 345, projeção UTM/SAD 69, out-1995, dez-2004.
c)
Mapas Municipais Estatísticos, Malha Territorial 2007: Penalva-MA
Geocódigo 2108306, Viana-MA Geocódigo 2112803, Olinda Nova do
Maranhão-MA Geocódigo 2107456, Monção-MA Geocódigo 2106904, São João
Batista Geocódigo 2111003
Nos trabalhos de interpretação de documentos cartográficos, foram
reconhecidos elementos geográficos que se destacam na paisagem, (lagos,
penínsulas, rios emissários, enseadas e outras formas geográficas) o que
forneceu elementos para a elaboração do primeiro modelo de inundação. O
modelo de inundação se aperfeiçoou à medida que os trabalhos de
etnoconhecimento se expandiram ao longo do sistema lacustre.
Não foi possível estabelecer uma amostragem probabilística de acordo
com os universos de cada realidade visitada. Os informantes foram
selecionados segundo os critérios estabelecidos anteriormente,
tornando-se, portanto, impossível mensurar o cluster de cada
região visitada. Optou-se portanto, pela amostragem não-probabilística
intencional, onde o pesquisador está interessado na opinião de
determinados elementos da população, mas não nos representativos dela.
(MARCONI e LAKATOS 1999).
A realidade da pesquisa focalizou o prestígio social que cada
informante tem de “serem conhecedores do ambiente” em suas regiões
inundáveis. Desta forma, foram selecionados 80 indivíduos em 10 regiões
distintas. Para cada ambiente hídrico visitado, selecionaram-se entre 06 a 10 informantes, cujas variações se deram de acordo com a complexidade que cada ambiente se mostrava.
3 RESULTADOS E DISCUSSÕES: O SISTEMA LACUSTRE PINDARÉ-MEARIM
O SLPM é um extenso lago de água doce intermitente que no período
chuvoso se configura em uma seqüência de compartimentos assimétricos em
forma de reentrâncias que se justapõe ao longo das marginais dos rios
Pindaré e Mearim (Figura 01), se destacando como o mais amplo conjunto
de lagos da Baixada Maranhense, conforme imagem de satélite Landsat
banda 345 de 2004. Durante a estiagem os fatores climáticos criam
mecanismos de desagregação formando pequenos lagos e lagoas
independentes ou interligadas a outros lagos por pequenos rios
emissários.
FIGURA 1 - Configuração do SLPM no período dos campos em inundação
Fonte: Dados da Pesquisa (2008).
Foram cartografados 24 lagos que compõem o SLPM a partir das cartas DSG
1:100.000 (Figura 2 e Tabela 1). A pesquisa registrou a existência de
32 lagos conhecidos pelo CET local em todo o SLPM, existindo mais lagos
que são mais conhecidos nas localidades ribeirinhas. Esses lagos não
foram cartografados por não serem visíveis nos documento cartográficos
em função do dinamismo dos ciclos sazonais das águas, já que alguns
secam logo no período da inundação em declínio, e antes disso estão
agregados aos lagos maiores. Maioria destes lagos está localizado nas
reentrâncias de Belém e Coqueiro, os quais somaram mais oito lagos além
dos cartografados, sendo estes: lago do Forjo, Itaparica, Novo, Da Mata,
Furo da Mata, Romana, Maravilha, e Cazumba.
Em decorrência do uso diversificado de modelos conceituais neste
trabalho, torna-se importante advertir que a nomenclatura “reentrância
lacustre” é utilizada no sentido de gênese dos lagos, conforme aponta AB
SABER (2002) e SUDENE/UFPE (1989) apud MARANHÃO (1991). Isto
pelo motivo de suas conchas assumirem tal forma, logo a utilização deste
termo será de caráter geomorfológico, conforme assinala HUTCHINSON
(1957) apud WETZEL (1993). Por outro lado, quando se aborda a
terminologia sistema lacustre, refere-se ao simples caráter coletivo dos
lagos, ou seja, de um conjunto de lagos que independem de sua
disposição em reentrâncias, podendo este abranger nenhuma, parte de uma,
ou ainda uma ou mais reentrâncias.
Outros
elementos que se destacam nas paisagens do SLPM referem-se ao conjunto
de terras firmes que compõem os conjuntos das bacias hidrográficas e
servem como suporte diante do funcionamento integral dos elementos
hídricos, que são as penínsulas de terra firme. É perceptível no SLPM
(Figura 01) que os conjuntos dos lagos formados pelas reentrâncias
acomodam-se em justaposição com vastas áreas de terra firme que se
sobressaem em sentido contíguo às margens das reentrâncias, assumindo a
forma de penínsulas no período chuvoso, configurando-se em uma
combinação de cinco reentrâncias alternadas por cinco penínsulas de
terras-firmes.
FIGURA 2 - Configuração do SLPM no período de inundação em declínio
Fonte: Dados da Pesquisa (2008).
TABELA 1 – Características dos lagos que compõem o SLPM.
Lago
|
Reentrância (s)
|
Município (s)
|
Península (s)
|
Extensão (km²)
|
Cajari
|
Cajari
|
Penalva, Cajari
|
Penalva
|
23,7
|
Capivari
|
Cajari
|
Penalva,
|
Penalva
|
3,2
|
Lontra
|
Cajari
|
Penalva,
|
-
|
0,61
|
Laguinho Cajari*
|
Pl Inundação
|
Penalva, Cajari
|
Pl Inundação
|
20,5
|
Apuí
|
Cajari
|
Penalva, Cajari
|
Pl Inundação
|
30,3
|
Viana
|
Viana
|
Viana, Penalva
|
Viana
|
51,1
|
Maracassumé
|
Viana
|
Viana, Penalva
|
Viana; Penalva
|
19,7
|
Maracu
|
Viana
|
Viana, Cajari
|
Viana
|
13,9
|
Aquari
|
Aquiri
|
Viana
|
Viana; Matinha
|
6,3
|
Aquiri
|
Aquiri
|
Viana
|
Viana; Matinha
|
19.7
|
Jacaré
|
Pl Inundação
|
Viana
|
Pl Inundação
|
1,2
|
Laguinho Gitiba*
|
Pl Inundação
|
Viana
|
Pl Inundação
|
1,1
|
Gitiba
|
Pl Inundação
|
Viana, Matinha
|
Pl Inundação
|
0,27
|
Itas
|
Pl Inundação
|
Viana, Matinha
|
Matinha
|
2,6
|
Galego
|
Belem
|
Matinha
|
Matinha
|
1,5
|
Belém
|
Belem
|
Matinha, Olinda N. Maranhão
|
Olinda N. Maranhão
|
5,1
|
Laguinho Belém*
|
Belem
|
Matinha, Olinda N. Maranhão
|
Olinda N. Maranhão
|
0,75
|
Silveira
|
Belem
|
Matinha, Olinda N. Maranhão
|
Olinda N. Maranhão
|
0,74
|
Coqueiro
|
Coqueiro
|
Matinha, Olinda N. Maranhão
|
Olinda N. Maranhão
|
3,4
|
Gameleira
|
Coqueiro
|
S.J.Batista
|
Olinda N. Maranhão
|
0,27
|
Genipapo
|
Coqueiro
|
S.J.Batista
|
Olinda N. Maranhão
|
0,30
|
Nova Yoque
|
Coqueiro
|
S.J.Batista
|
Olinda N. Maranhão, S.J.Batista
|
0,72
|
Filadélfia
|
Coqueiro
|
S.J.Batista
|
Olinda N. Maranhão, S.J.Batista
|
0,30
|
Uba
|
Coqueiro
|
S.J.Batista
|
Olinda N. Maranhão, S.J.Batista
|
2,1
|
Total da área do SLPM
|
215,66
|
*
Corpo lacustre conhecido em sua região simplesmente pela denominação de
“Laguinho”. Para diferenciá-los na área de estudo, adicionou-se o nome
do
lago referência mais próximo de cada lago.
Fonte: Dados da Pesquisa (2008).
LOPES (1970) ressalta que algumas nomenclaturas marítimas usadas para
formas geomorfológicas como ilhas, pontas, enseadas dos campos da
Baixada, correspondem não só às aparências da paisagem, como também a
origem da Terra, concluindo que essas formas indicam a sobrevivência de
antigo litoral Terciário e Pleistoceno semelhante ao atual, devido à
analogia das condições de erosão.
Por outro lado CARVALHO (1958) mostra-se perceptível à ocorrência desse
estirão de terras-firmes no município de Viana, quando enfatiza:
“Mas
penetrando-lhe os flancos, abrindo enseadas e furos, avança até muito
dentro do território do município, ao nascente pelo lago do Aquiri e
igarapé do Pirai e ao poente pela grande enseada do Piraqueú,
prolongando ao lago Maracassumé, formando assim uma grande península de
terra firme, em cujo extremo meridional está edificada a cidade (...)”.
Os sistemas hídricos adjacentes ao SLPM são os dois grandes rios
caudalosos genuinamente maranhenses, o Pindaré e o Mearim e o Golfão
Maranhense, conforme figura 3:
Fonte: Adaptado de Google Earth Versão 4.3 e Posterior (2008).
Para
efeito de referenciar geograficamente o SLPM, foram consideradas três
zonas lacustres proximais ao conjunto fluvial adjacente seguindo-se o
sentido nascente-foz, conforme a figuras 4:
a) zona pré-confluência do Pindaré-Mearim;
b) zona confluência Pindaré-Mearim;
c) zona pós-confluência Pindaré-Mearim.
FIGURA 4 - O SLPM em suas zonas proximais ao conjunto fluvial Pindaré-Mearim
Fonte: Dados da Pesquisa (2008).
A área de abrangência destas reentrâncias se mostra extensa e complexa,
principalmente pelo fato de alguns lagos de dimensões relativamente
grandes, como é o caso dos lagos de Viana, Cajari, Coqueiro e Belém
serem bastante recortados em sua totalidade e se expandem por mais de um
município.
As reentrâncias possuem um elemento em comum ao longo de suas planícies de inundação (CRISTOFOTETTI,
1980) mais próximas aos rios caudalosos: os igarapés que funcionam como
rios emissários de um lago para outro ou mesmo de um lago para um rio
caudaloso. Boa parte destes igarapés tem regimes temporários, alguns
podendo ser vistos somente no período dos campos em inundação ou no
período de inundação em declínio.
Para cada agrupamento lacustre em reentrância atribuiu-se a partir dos
trabalhos de campo, uma denominação de acordo com o “lago referência”
mais cogitado pelo CET local. Assim, ficaram denominados os cinco
sistemas lacustres em reentrâncias, cada um formando uma bacia de
drenagem em seu conjunto hídrico e suas terras firmes (Figura 4).
FIGURA 5 - Bacias de drenagem das reentrâncias lacustres do SLPM.
Fonte: Dados da Pesquisa (2008).
As áreas das bacias de drenagens do SLPM (Tabela 2) possuem as seguintes extensões territoriais:
TABELA 2 - Extensão territorial das bacias hidrográficas do SLPM.
Bacias
|
Área (km²)
|
Cajari
|
283,1
|
Viana
|
255,2
|
Aquiri
|
162,9
|
Belém
|
192,2
|
Coqueiro
|
175,3
|
Área total
|
1.068,7
|
Fonte: Dados da Pesquisa (2008).
As bacias estão assim dispostas com relação ao conjunto dos rios
caudalosos, responsáveis pela dinâmica de inundação:
a) Reentrância do Lago Cajari (zona pré-confluência do Pindaré);
b) Reentrância do Lago de Viana (zona pré-confluência do Pindaré, zona confluente do Pindaré-Mearim);
c)
Reentrância do Lago Aquiri (zona confluência do Pindaré-Mearim, zona
confluente do Pindaré-Mearim e zona pós-confluência do Pindaré-Mearim);
d) Reentrância do Lago Belém (zona pós-confluência Pindaré-Mearim);
e) Reentrância do Lago Coqueiro (zona pós-confluência Pindaré-Mearim).
Para determinação do regime de inundação do SLPM, houve a necessidade
de se fazer observação direta em pontos diversificados do SLPM e os rios
Maracu, e Pindaré, tendo-se escolhido dez pontos distintos.
Utilizou-se o termo “pulso de inundação” para designar o movimento das
águas diante das enchentes provocadas por rios ou transbordamento de
lagos. Pulso de inundação é definido por RESENDE (2005) como o movimento
de entrada e saída das águas, sendo
um processo ecológico essencial e fator chave que comanda a riqueza e a
abundância da vida nos ambientes inundáveis. VAZZOLER; AGOSTNHO &
HAHN (1997) consideram como simples alterações nos níveis hidrométricos
dos corpos inundáveis.
Utilizaram-se
também os conceitos de “relevo de montante” e “relevo de jusante”, onde
GUERRA & GUERRA (1993) considera que montante é aquele lugar
situado acima de outro, tomando-se em consideração a corrente fluvial
que passa na região, relevo de montante, por conseguinte “é aquele que
está mais próximo das cabeceiras de um curso de água”, que neste
contexto se considera o lago Cajari como montante principal.
Em efeitos contrários o mesmo autor considera que relevo de jusante, “é
uma área abaixo de outra ao se considerar a corrente fluvial pela qual é
banhada, enquanto que relevo de jusante é usado na descrição de uma
região que está numa posição mais baixa em relação ao ponto considerado,
que na contextualização deste trabalho consideram-se os rios Pindaré e
Mearim como jusante principal.
As
dez regiões estudadas foram escolhidas pela necessidade de reconhecer e
descrever os pulsos de inundação e elementos condicionantes de cada
realidade relacionada com o SLPM, pondo-se em destaque os recursos
hídricos superficiais que mais contribuem para o movimento dos pulsos.
O regime de inundação de cada região hídrica visitada pode ser
visualizado na tabela 3, onde foram tabulados as informações do CET
auferido pelas PAI’s e sistematizadas a partir de técnicas
quantitativas.
TABELA 3 – Modelo do regime de inundação das regiões hídricas do SLPM visitadas, elaborado a partir das PAI’s.
REGIÃO HÍDRICA
|
Nº DE INFOR-MAN-TES
|
MÉDIA DE
IDADE-ANOS
|
MARÉ DINAMICA
|
MARÉ SALOBRA
|
REGIME DE INUNDAÇÃO DURANTE OS MESES
| ||||||||||||||||||||||
DE
VIDA
|
EXPERIÊNCIA
|
INTEN-
SIDADE
|
PERIODI-
CIDADE
|
INTEN-
SIDADE
|
PERIODI-
CIDADE
| ||||||||||||||||||||||
F
O
|
M
E
|
F
R
|
D
I
|
C
L
|
I
M
|
F
O
|
M
E
|
F
R
|
D
I
|
I
M
|
C
L
|
J
A
N
|
F
E
V
|
M
A
R
|
A
B
R
|
M
A
I
|
J
U
N
|
J
U
L
|
A
G
O
|
S
E
T
|
O
U
T
|
N
O
V
|
D
E
Z
| ||||
Lagos de
de Penalva
|
10
|
58,8
|
39,9
|
-
|
-
|
-
|
-
|
-
|
-
|
-
|
-
|
-
|
-
|
-
|
-
|
-
|
-
|
-
| |||||||||
Lago Apuí
|
10
|
59,1
|
42,9
|
-
|
-
|
-
|
-
|
-
|
-
|
-
|
-
|
-
|
-
|
-
|
-
|
-
|
-
|
-
|
-
|
-
| |||||||
Lago de Viana
|
8
|
52,6
|
38,1
|
-
|
-
|
-
|
-
|
-
|
-
|
-
|
-
|
-
|
-
|
-
|
-
|
-
|
-
|
-
| |||||||||
Maracu
|
10
|
50,6
|
32,6
|
-
|
-
|
-
|
-
| ||||||||||||||||||||
Pindaré Vianense
|
6
|
51,3
|
35,1
|
-
|
-
|
-
|
-
|
-
| |||||||||||||||||||
Lago Aquiri
|
7
|
54,2
|
40,7
|
-
|
-
|
-
|
-
|
-
|
-
|
-
|
-
|
-
|
-
|
-
|
-
|
-
|
-
|
-
|
-
|
-
| |||||||
Itans e Gitiba
|
8
|
62,3
|
47,3
|
-
|
-
|
-
|
-
|
-
|
-
|
-
|
-
|
-
|
-
|
-
|
-
|
-
| |||||||||||
Reentrância Belém
|
7
|
49,8
|
36,2
|
-
|
-
|
-
|
-
|
-
|
-
|
-
|
-
|
-
|
-
|
-
|
-
|
-
|
-
|
-
|
-
|
-
|
-
|
-
| |||||
Reentrância Coqueiro
|
8
|
53,3
|
33,8
|
-
|
-
|
-
|
-
|
-
|
-
|
-
|
-
|
-
|
-
|
-
|
-
|
-
|
-
|
-
|
-
| ||||||||
Lago dos Peixes
|
6
|
51,0
|
34,3
|
-
|
-
|
-
|
-
|
-
|
-
|
-
|
-
|
-
|
-
|
-
|
-
|
-
|
-
|
-
|
-
|
-
|
-
|
-
|
LEGENDAS
| |||
FORMA DAS MARÉS
|
REGIME DE INUDAÇÃO
| ||
Sugestões unânimes (Forma predominante)
|
Sugestões unânimes (Período de inundação)
| ||
Sugestões parciais (Acontecimentos eventuais)
|
Sugestões parciais (Fluxos antecipados/prolongados)
| ||
Sugestões raras (Acontecimentos raros)
|
Sugestões raras (Pequenos fluxos)
|
Fonte: Dados da Pesquisa (2008).
A tabela deixa perceptível que nas regiões de lagos das três primeiras
reentrâncias, o regime hídrico é mais duradouro, o que assegura um
caráter de perenidade para maioria dos lagos. Nas duas ultimas
reentrâncias o processo não acontece da mesma forma, isto por que:
- Os pulsos de inundação que originam as primeiras frentes de inundação
estão concentrados na região da primeira reentrância, tendo-se o lago
Jacareí, o conjunto do Formoso e próprio Pindaré em sua interação com o
Maracu como produtores dos pulsos.
- As três primeiras reentrâncias possuem depressões relativamente
profundas, e, por conseguinte, funcionam como imensos reservatórios com
maior capacidade de armazenamento de água.
- As reentrâncias Belém e Coqueiro possuem suas depressões mais rasas, descontínuas e bastante fragmentadas.
- Os pulsos de inundação que interagem com a região das duas ultimas
reentrâncias são mais escassos, representados basicamente pelos igarapés
temporários e o lago dos Peixes.
Ao atingir seu clímax de inundação ocasionada pelas enchentes[3]
do rio Pindaré, as imagens de satélites mostram o SLV expandido ao
Norte pela região lacustre das reentrâncias de Belém e Coqueiro e ao Sul
pela reentrância do lago Cajari, tornando-se um corpo lacustre
contínuo. Os processos dinâmicos mais elementares deste funcionamento do
SLPM discutidos anteriormente podem ser visualizados no modelo de
inundação gráfico (figura 5) gerado a partir do CET das comunidades,
através da aplicação das PAI’s (Apêndice C) e do geoprocessamento de
imagens do programa Microsoft Word Imaging, utilizando-se da simples
técnica de vetorização das imagens.
No período de vazão estas áreas que intercalam as planícies de
inundação afunilam-se em córregos, enseadas e pequenos canais que vão se
transformando em poções. No
final da estiagem o SLPM transforma-se em um mosaico de paisagens
contrastado por um conjunto de lagos assimétricos, sobrepostos em
extensas áreas de terraços lacustres que recebem a denominação local de torrão ou torroada.
FIGURA 6 - Modelo de inundação do SLPM a partir do CET sistematizado e da interpretação de imagens de satélites.
Fonte: Dados da Pesquisa (2008
Percebe-se nas caracterizações de ESTEVES (1998) que o SLPM com um todo
se assemelha aos lagos da região amazônica, do Pantanal Matogrossense e
alguns poucos lagos das margens do rio São Francisco, ao descrever que:
(...)
os ecossistemas aquáticos recebem grande quantidade de água, o que
resulta no aumento de área e de profundidade dos rios e lagos. Nesse
período ocorre a intercomunicação de vários lagos e rios, formando um
único sistema. Já na época da seca, com a queda do nível da água, dos
diferentes sistemas permanecem isolados, ou comunicam-se por canais.
Em literaturas mais especificas da Amazônia é possível perceber as
mesmas semelhanças, como a de MEIRELES FILHO (2004) quando destaca que:
Os
lagos da Amazônia resultam da alteração de curso dos rios e por eles
são alimentados durante as enchentes dos rios como o Amazonas. Na época
das secas a comunicação com os rios é menor, pelos furos, ou mesmo
interrompida, quando secam. Nas áreas de várzeas há lagos menores, que
se formam nas épocas de chuvas e secam nos períodos de
estiagem.
LOPES (1970) internalizou historicamente o termo “rosário de lagos”
para designar o estado morfoevolutivo atual do SLPM. CARVALHO (1958) é
outro pesquisador mais contemporâneo que se destaca na literatura sobre a
Baixada Maranhense, referenciando as idéias de Lopes, embora os dois
pesquisadores desconhecessem as dimensões e composição reais de todo
recurso hídrico.
GUERRA & GUERRA (1993) utiliza-se do termo “lagos em rosário” para
designar “uma série de lagos recortados” exemplificando alguns lagos
costeiros do Espírito Santo e Rio Grande do Sul. Percebe-se que a
designação de “rosário” é entendida pelo simples fato de serem
recortados e estarem dispostos em um intercalamento de dunas. FERREIRA
(2004) explica que o termo “rosário” pode assumir um sentido figurado,
traduzindo-se em uma “série”, “seqüência” ou “sucessão”.
4 CONCLUSÕES
Alguns princípios teóricos de Ab Saber, SUDENE, Esteves, Guerra e
Guerra e de pesquisadores regionais clássicos como o Lopes e Carvalho
foram imprescindíveis para incrementar os conhecimentos já existentes e
sistematizar os modelos conceituais e classificações elaborados nesta
abordagem. A interpretação do enfoque geossistêmico dos ambientes foi
substancial para a ampliação dos conhecimentos sobre os recursos
hídricos locais que também somam para todo o contexto regional da
Baixada.
Os trabalhos de sensoriamento remoto foram indispensáveis para a
identificação de elementos hídricos que até o momento se faziam
desconhecidos pela comunidade científica. Esse é o caso do de alguns
igarapés como o igarapé do Baiano, que realiza trocas de energia
diretamente e periodicamente com o lago Apuí e rio Pindaré. Na função de
afluente ou de emissário, foi visto que este elemento hídrico é
responsável pela regulação dos fluxos e refluxos dos ambientes hídricos
locais durante os ciclos anuais de inundação e vazão.
A materialidade histórica buscada nas literaturas regionais e as
concepções modernas da geomorfologia fluvial formaram um suporte teórico
substancial para a sistematização de bases conceituais que até o
momento se fazem confusas no entendimento de estudantes, professores,
pesquisadores e jornalistas. Põe-se em relevo a legitimação do Maracu
como um rio, a linha de interpretação do “rosário de lagos”, o
esclarecimento e identificação de penínsulas e outras questões
relacionadas com as heranças culturais e históricas deixadas pelos
padres jesuítas.
A tradução da hidrografia regional foi baseada no entendimento de que o
SLPM funciona como se fosse um desvio do rio Pindaré que se mantém
“mais ou menos confinado” em uma seqüência de depressões assimétricas e
forma uma única massa de água doce, tornando-se o ambiente lacustre de
maior destaque de toda a Baixada Maranhense.
Tendo-se os campos na inundação em declínio, a tendência vital das
comunidades ribeirinhas é impedir que alguns pontos desse imenso desvio
se estrangulem em um relevo de jusante e retornem para a calha fluvial
principal. Esta ação faz prolongar, no máximo possível, a perenidade dos
sistemas inundáveis, ou mesmo controlar as enchentes salinas, para a
proteção e conservação das águas doces. É a partir dessa necessidade
vital que as comunidades constroem os diques artificiais que são
denominados de tapagem ou barragem.
Na inundação em declínio alguns lagos de desagregam total ou
parcialmente dos corpos hídricos mais próximos, visto que as águas ficam
concentradas nas depressões mais baixas, originando um autêntico
“rosário de lagos” descrito pelos pesquisadores clássicos e também por
Guerra e Guerra (1993) ao enfatizar a geomorfologia de lagos de outras
regiões do Brasil.
São lagos de todos os tamanhos e de todas as formas que recebem
denominações locais, sendo que os de menores depressões estão dentro das
duas ultimas reentrâncias, enquanto os maiores estão nas três primeiras
reentrâncias, provavelmente indicando que as primeiras foram mais
trabalhadas pelos movimentos de regressão e transgressão marítima na
época do paleo-golfo.
Indiretamente os rios caudalosos (Pindaré e Mearim) possuem uma função
importante na vida da população pelo fato de funcionarem como
reguladores dos estoques de pesca dos lagos e promoverem os pulsos de
inundação ao regime hídrico local. Diretamente as influências são
menores pelo fato destes cursos de água se encontrarem distantes dos
maiores aglomerados populacionais dos municípios. Esta situação se
explica pelo fato do ambiente concentrar muitas áreas alagadas, logo,
pouco acessíveis e inóspitas ao ecúmeno das comunidades.
Apesar da exuberância ainda existente dos elementos naturais, o SLPM
vem apresentando indicadores que refletem os graves impactos causados
pelas interferências antrópicas. A perda de cobertura vegetal das bacias
de drenagens, a destruição das matas ciliares, a redução das áreas
inundáveis e das conchas lacustres, construção de barragens e
aterramentos, diminuição do volume de água, a improdutividade da pesca
artesanal são efeitos dessas mudanças que se traduzem em flagelos
sociais para as comunidades tradicionais que se fazem mais dependentes
desses recursos.
Algumas mudanças na configuração de muitos elementos naturais das
paisagens são cruciais. Em Viana, área de concentração dos trabalhos, é
percebido que o lago Maracassumé não pode mais ser considerado um lago
perene, já que se transforma em um poção no período de estiagem.
Algumas ilhas como o Sacoã e Sacoanzinho que ornamentam os campos da
cidade têm deixado seu caráter de ilhas nas estiagens mais longas,
eventos estes não acontecidos antes, já que o lago de Viana vem
apresentando redução no seu volume de água. Algumas localidades de Viana
que se denominaram pelo destaque dos seus elementos naturais, como
Enseada do Belo, Baixa do Capim, Areal, Campo Novo, não se configuram
mais como tais, pelas mudanças na dinâmica de inundação ou pelas graves
interferências antrópicas.
O crescimento tecnológico e econômico têm contribuído para ascensão de
uma sociedade moderna baseada em um modelo de consumo que impulsiona o
uso indiscriminado dos recursos. São fatores desse efeito, a especulação
imobiliária urbana que vem impactando as bacias de drenagens e as
planícies de inundação dos lagos, a especulação fundiária pautada no
modelo de grilagem de terras agrícolas e no cercamento dos campos
inundáveis, o crescimento do turismo ecológico, praticado com a ausência
de infra-estrutura, planejamento e educação ambiental, a produção
crescente do lixo que se acumula em monturos nos campos inundáveis e nas
ruas, o crescimento da bubalinocultura que tem tornado os recursos
hídricos improdutivos e os solos mais susceptíveis a erosão.
REFERÊNCIAS
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BARENHO, C. P.; MACHADO C.R.S. Contribuições do Marxismo e da Etnoecologia para o estudo das relações socioambientais. Disponível em <http://www.unicamp.br/cemarx/anais_v_coloquio_arquivos/arquivos/comunicacoes/gt2/sessao3/Cintia_Barenho.pdf> . Acesso em 05.09.2008.
BEGOSSI,
A; HANAZAKI, N; e SILVANO, R.A.M. Ecologia humana, etnoecologia e
conservação. In: AMOROZO, M.A,; MING, L.C. e SILVA, S.P.. (Org.). Métodos de coleta e análise de dados em etnobiologia, etnoecologia e disciplinas correlatas. Rio claro-S.P: SBEE/CNPq/UNESP, 2002, cap 4. p 91-128.
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CHRISTOFOLETTI, A. Geomorfologia.2ª ed. São Paulo: Edgard Blücher, 1980, 189p.
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ESTEVES, F. A. Fundamentos de limnologia. 2 ed. Rio de Janeiro: Interciência, 1998 FERREIRA, A. B. de H. Novo dicionário eletrônico Aurélio versão 5.0. 3ª. Ed. São Paulo: Positivo Informática Ltda, 2004
GUERRA, A.T.; GUERRA, A.J.T. Novo dicionário geológico geomorfológico. 8ª ed. Rio de Janeiro: IBGE, 1993, 648p.
LOPES, R. Uma região tropical. Rio de Janeiro: Cia Editora Fon-Fon e Seleta, 1970, 198p. (Coleção São Luis – 2).
MARANHÃO, Secretaria do Estado do Meio Ambiente e Turismo - SEMATUR. Diagnóstico dos principais problemas ambientais do estado do Maranhão. São Luís: Lithograf 1991, 193p.
MARCONI, M.A., LAKATOS, E.M. Técnicas de pesquisa:
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RESENDE. E. K. Os pulsos de inundação e o rio Taquari. Embrapa: Corimbá-MS. Disponível em: <http://www.cpap.embrapa.br/publicacoes/online/ADM040.pdf > . Acesso em 15.10.2008.
SOUZA, M. R. de. Etnoconhecimento caiçara e uso de recursos pesqueiros por pescadores artesanais e esportivos do Vale da Ribeira. Dissertação (Mestrado em Ecologia de Agroecossistemas). ESALQ – Piracicaba. 2004.102p
VAZZOLER; A.E.A.M.; AGOSTINHO, A.A.; HAHN, N.S. A planície de inundação do alto rio Paraná: aspectos físicos, biológicos e socioeconômicos. Maringá: Nupélio, 1997.
WETZEL. R.G. Limnologia. Lisboa: Fundação Caloute Gulbenkian. 1993. (Tradução: Maria José L. Boavida – Professora da FCUL)
APÊNDICE A – Modelo de PAI Aplicadas aos Ambientes Hídricos do SLPM (Planilha de 01)
UNIVERSIDADE FEDERAL DO MARANHÃO
DEPARTAMENTO DE OCEANOGRAFIA E LIMNOLOGIA
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO SUSTENTABILIDADE DE ECOSSISTEMAS
MESTRADO
PLANILHA DE ANÁLISE DO CICLO DE INUNDAÇÃO COM O USO DO CET
REGIÃO LACUSTRE: Reentrância Lacustre Cajari – lagos de Penalva
PLANILHA:
01
DADOS DO INFORMANTE
|
CARACTERIZAÇÃO DO LOCAL
|
INFLUENCIA COSTEIRA
|
FRENTE DO REGIME
DE INUNDAÇÃO DURANTE OS MESES
| ||||||||||||||||||||||||||||
NOME
|
OCUPA-ÇÃO PRIN
CIPAL
|
IDADE-ANOS
|
LOCALIZAÇÃO
GEOGRÁFICA
|
PULSO(s) DE INUNDAÇÃO
|
MARÉ DINAMICA
|
MARÉ SALOBRA
| |||||||||||||||||||||||||
DE
VIDA
|
EXPERIÊNCIA
|
INTEN-
SIDADE
|
PERIODICI-
DADE
|
INTEN-
SIDADE
|
PERIODICI-
DADE
| ||||||||||||||||||||||||||
CORPO
D’ÁGUA
|
LUGAR
|
RELEVO DE MONTANTE
|
RELEVO DE JUSANTE
|
F
O
|
M
E
|
F
R
|
D
I
|
C
L
|
I
M
|
F
O
|
M
E
|
F
R
|
D
I
|
I
M
|
C
L
|
J
A
N
|
F
E
V
|
M
A
R
|
A
B
R
|
M
A
I
|
J
U
N
|
J
U
L
|
A
G
O
|
S
E
T
|
O
U
T
|
N
O
V
|
D
E
Z
| ||||
Antonio Souza Neto
|
Comerci-ante
|
61
anos
|
46
anos
|
lago Cajari
|
Penalva Sede
|
L. Jacareí,
Formoso
|
lago Viana
|
-
|
-
|
-
|
-
|
-
|
-
|
-
|
-
|
-
|
-
|
-
|
-
|
-
|
X
|
X
|
X
|
X
|
X
|
X
|
X
|
X
|
-
|
-
|
-
|
Valdivino Pinheiro
|
Pescador
|
58
anos
|
38
anos
|
lago Cajari
|
Penalva Sede
|
L. Jacareí,
Formoso
|
lago Viana
|
-
|
-
|
-
|
-
|
-
|
-
|
-
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-
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-
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-
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-
|
-
|
-
|
X
|
X
|
X
|
X
|
X
|
X
|
-
|
-
|
-
|
-
|
-
|
Artur F. Barros
|
Lancheiro
|
51
anos
|
36
anos
|
lago Cajari
|
Penalva Sede
|
L. Jacareí,
Formoso
|
lago Viana
|
-
|
-
|
-
|
-
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-
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-
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-
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-
|
X
|
X
|
X
|
X
|
X
|
X
|
-
|
-
|
-
|
-
|
-
|
Catarino de J.V. Oliveira
|
Pescador/ Lavrador
|
58
anos
|
33
anos
|
lago Cajari
|
Penalva Sede
|
L. Jacareí,
Formoso
|
lago Viana
|
-
|
-
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-
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-
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X
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X
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X
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X
|
X
|
X
|
X
|
-
|
-
|
-
|
-
|
João Farias de Sousa
|
Aposentado
|
66
anos
|
51
anos
|
lago Cajari
|
Penalva Sede
|
L. Jacareí,
Formoso
|
lago Viana
|
-
|
-
|
-
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-
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|
X
|
X
|
X
|
X
|
X
|
X
|
X
|
-
|
-
|
-
|
-
|
Maria Nice M. Aires
|
Pescadora/Lavradora
|
54
anos
|
37
anos
|
lago Cajari
|
Penalva Sede
|
L. Jacareí,
Formoso
|
lago Viana
|
-
|
-
|
-
|
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-
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-
|
X
|
X
|
X
|
X
|
X
|
X
|
-
|
-
|
-
|
-
|
-
|
Marssal Gomes
|
Pescador/ Lavrador
|
72
anos
|
41 anos
|
lago Cajari
|
Pov. B. do Lago
|
L. Jacareí,
Formoso
|
lago Viana
|
-
|
-
|
-
|
-
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-
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-
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-
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-
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-
|
-
|
-
|
-
|
-
|
X
|
X
|
X
|
X
|
X
|
X
|
-
|
-
|
-
|
-
|
-
|
José Ribamar M. Santos
|
Pescador/ Lavrador
|
49
anos
|
31
anos
|
L. Ca-
pivari
|
Pov. P.Grande
|
L. Jacareí,
Formoso
|
lago Viana
|
-
|
-
|
-
|
-
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-
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-
|
-
|
-
|
-
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-
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-
|
X
|
X
|
X
|
X
|
X
|
X
|
-
|
-
|
-
|
-
|
-
|
Genésio Barbosa
|
Pescador/ Lavrador
|
63
anos
|
45 anos
|
L. Ca-
pivari
|
Pov. Stª. Maria
|
L. Jacareí,
Formoso
|
lago Viana
|
-
|
-
|
-
|
-
|
-
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-
|
-
|
-
|
-
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-
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-
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-
|
X
|
X
|
X
|
X
|
X
|
X
|
-
|
-
|
-
|
-
|
-
|
Galdino C. Arouche
|
Agente de Saúde
|
56
anos
|
41 anos
|
L. For-moso
|
Pov. Caetitu
|
L. Jacareí,
Formoso
|
lago Viana
|
-
|
-
|
-
|
-
|
-
|
-
|
-
|
-
|
-
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-
|
-
|
-
|
-
|
X
|
X
|
X
|
X
|
X
|
X
|
X
|
-
|
-
|
-
|
-
|
LEGENDAS
FO: Forte ME: Média FR: Fraca
DI: Diária CL: Ciclo da Lua IM: Impossível Mensurar
[1]
O Sistema Lacustre Pindaré-Mearim – SLPM é uma das bases conceituais
elaboradas na dissertação de mestrado do Programa de Pós-Graducação em
Sustentabilidade de Ecossistemas da Universidade Federal do Maranhão:
Sistema Lacustre Vianense: ensaios de modelos conceituais para os lagos
do município de Viana-MA
[2] Licenciado em Geografia e Mestre em Sustentabilidade de Ecossistemas pela Universidade Federal do Maranhão.
3
Mesmo à longas distâncias, alguns trabalhadores rurais dessa região
conseguem perceber quando a barragem do igarapé do Mistério localizada
no lago Jacareí se rompe e ocorre o evento denominado pelos
trabalhadores rurais de enchentes. Esse acontecimento só traz alegria para as comunidades. Algumas delas usam termos que anunciam tal evento: o Pindaré tá botano; o Pindaré ta mandano ou o Pindaré ta lançano. O aposentado Cássio Carneiro do povoado Coqueiro em Olinda Nova do Maranhão afirma catedratricamente: “Quando o Mistério arrebenta a gente diz: o Pindaré já ta botano, aí a gente já fica sabeno que o “inverno” tá vino com vontade”.
Por: Ney Silva
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