Entre
os dias 22 e 25 de julho, na próxima semana, portanto, acontece em
Vitoria, ES o qüinquagésimo Congresso da Sociedade Brasileira de
Economia, Administração e Sociologia Rural (SOBER0. Um evento anual que
congrega cientistas, pesquisadores, estudantes de Ciências Agrárias do
Brasil e do Exterior.
Estarei
por lá apresentando um trabalho que venho realizando, já faz alguns
anos, que consiste no acompanhamento anual da produção agrícola do
Maranhão, notadamente a de alimentos, sobretudo aqueles cultivados pela
totalidade dos agricultores familiares maranhenses: arroz, feijão,
mandioca e milho.
O
IBGE começou a fazer registros da produção agropecuária brasileira em
1933. Naquele ano a área contabilizada no cultivo daqueles quatro itens
no Maranhão foi de 46.760 hectares, em que foram produzidas 235.305
toneladas.
O
Maranhão prosseguiu produzindo alimentos numa trajetória cíclica (uma
das características da produção agrícola), mas com tendência ascendente,
até o começo dos anos oitenta. Em 1982 o estado alcançou o pico de 2,28
milhões de hectares colhidos com arroz, feijão, mandioca e milho. A
produção foi histórica: 5,43 milhões de toneladas. A produção diária per
capita de alimentos também foi a maior, desde que há registros,
chegando a 3.584 gramas.
Pode-se
falar tudo dos militares no poder, naquele período de exceção entre
abril de 1964 e fevereiro de 1985. E há muito o que falar. Mas em
sintonia com os fatos históricos, temos que registrar que foi naquele
período que o setor agrícola brasileiro iniciou os caminhos que o fariam
referencia mundial na produção de alimentos e de agro energia. Em 1974
foram criadas a EMBRAPA e a Empresa Brasileira de Assistência Técnica e
Extensão Rural (EMBRATER). No Maranhão havia a Empresa Maranhense de
Assistência Técnica e Extensão Rural (EMATER) vinculada à EMBRATER.
Em
março de 1985 assumiu o primeiro governo civil, após vinte anos de
governos militares. Dentre tantas providencias desastradas do novo
governo, uma delas foi desmantelar a EMBRATER. Por tabela, as EMATER dos
estados entraram em colapso. A EMBRAPA não foi desestruturada porque já
tinha prestigio internacional, inclusive porque elaborou o maior
programa de treinamento de Profissionais de Ciências Agrárias que se tem
noticia neste Brasil. Gerava conhecimentos que revolucionariam a
produção do País.
Os
estados do Sul e do Sudeste conseguiram manter o seu sistema de
assistência técnica, e continuaram produzindo bem. Os do Norte e do
Nordeste seguiram no ritmo do que fazia o governo Federal. No Maranhão,
cujo Governador estava sintonizado ao então presidente da Republica, o
descaso foi evidente. Os resultados vieram logo, numa incrível relação
de causa-efeito. Em 1985 o Maranhão colheu apenas 1,8 milhões de
toneladas de alimentos em 1,2 milhões de hectares. A produção diária per
capita despencou para 1.122 gramas, menos de um terço do valor de 1982,
que deve ser a nossa referencia mínima.
A
decadência do estado continuou, até que em 1998 a governadora, que
assumira o seu segundo mandato, acabou com a Secretaria de Agricultura e
com todo o aparato técnico e institucional que viabilizava a produção
agrícola de alimentos no Maranhão.
A
relação causa-efeito se manifestou novamente de forma cristalina,
expondo a incompetência administrativa daquele governo. Em 1998 o
Maranhão colheu 924.488 hectares, 40% da área histórica de 1982. Naquele
ano (1998) a produção diária per capita de alimentos no estado chegou
ao fundo do poço, atingindo 678 gramas, apenas 23 gramas acima das 655
gramas diárias per capita de 1934.
Em
abril de 2002 a Secretaria de Agricultura foi recriada, e com ela
refez-se o serviço de assistência técnica, através das Casas do
Agricultor Familiar (CAF). Com esta medida, o Maranhão retomou a
produção de alimentos, inclusive tendo uma postura mais agressiva na
captação de recursos do PRONAF, que tinha dificuldade de acesso por não
ter Secretaria de Agricultura. Os resultados vieram num crescendo entre
2003 e 2006. Em 2006 o estado atingiu o recorde na captação de recursos
do PRONAF, ficando atrás apenas da Bahia no Nordeste. A produção diária
per capita de alimentos ascendeu para 1.282 gramas, ainda distante da
marca histórica, mas quase o dobro do desastre de 1998.
Em
2007 as CAF foram desmontadas, e no seu lugar foi colocada uma
estrutura de burocracia pesada. Em decorrência o Maranhão voltou a
regredir na captação de recursos do PRONAF, caindo para a quinta posição
no Nordeste, e na produção de alimentos (1.260 gramas diárias per
capita). A queda evoluiu, de modo que a produção diária per capita de
alimentos chegou a apenas 911 gramas em 2010. Por estas e outras razões é
que o Maranhão segue com a triste marca de ser o estado recordista em
carências de toda ordem.
Por: José Lemos
http://bequimaoagora.wordpress.com/
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