A Justiça do Maranhão decretou a prisão do vice-prefeito do município de Olinda Nova, Antônio Martins Gomes, o Tonho de Gentil, de 51 anos, e de seu irmão, o fazendeiro Manoel de Jesus Martins Gomes, o Manoel de Gentil, de 53 anos, suspeitos de serem os mandantes da morte do líder quilombola Flaviano Pinto Neto, o Bique, de 45 anos, assassinado com oito tiros no município de São João Batista, em outubro de 2010.
Segundo informações do delegado Armando Pacheco, da delegacia de São João Batista, e responsável pelo inquérito, as buscas pelos irmãos proprietários de terras da região começaram na sexta-feira, 1º, data da ordem judicial. Manoel de Gentil e o vice-prefeito de Olinda Nova já são considerados foragidos da Justiça. “Desde o instante em que recebemos a ordem de prisão, iniciamos as buscas pelos suspeitos, que simplesmente desapareceram”, disse o delegado.
Em entrevista a O Estado, o presidente do inquérito afirmou que recebeu informações de que os dois estariam em uma das propriedades de Manoel de Gentil, uma fazenda localizada no Povoado Barracão de Madeira, no município de Governador Newton Bello. Durante a madrugada, a equipe de policiais de São João Batista fez buscas na localidade, mas não encontraram os suspeitos. De acordo com o delegado, até o Grupo Tático Aéreo (GTA) foi acionado para dar apoio à ação policial.
“Já havíamos nos deslocado até a cidade de Olinda Nova, mas lá fomos informados de que o vice-prefeito Antônio Martins Gomes estaria em companhia do irmão, no Povoado Barracão de Madeira. As investigações apontam provas irrefutáveis de que Antônio Gomes teria participação no crime, em virtude de este ser dono de mais de 200 cabeças de gado, criadas justamente nas terras da família, cuja disputa com a comunidade quilombola culminou no crime”, acrescentou Pacheco.
O caso- A motivação para o assassinato do líder quilombola, segundo a polícia, teria sido a disputa pelas terras da Fazenda Juçaral, de mais de 1.400 hectares, na comunidade do Charco, em São Vicente Férrer. A gleba teria sido pleiteada em 2005 pelo Instituto de Colonização e Terras do Maranhão (Iterma) e pelo Sindicato dos Trabalhadores da Agricultura Familiar (Sintraf) do estado. Um ano depois, entretanto, o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) teria feito uma divisão irregular da área.
Conforme o delegado Maymone Barros, que também investiga o caso pela Delegacia de Homicídios (DH), “a divisão beneficiou quatro herdeiros do patriarca da família Gomes”. Porém, recentemente a associação dos quilombolas ganhou a atenção do Ministério Público Federal, que suscitou a possibilidade de conceder a posse das terras aos lavradores. A iminência de perder a posse da gleba, segundo a polícia, teria motivado a encomenda da morte de Bique.
Também tiveram prisões preventivas decretadas outros dois envolvidos, que já estão custodiados no Complexo Penitenciário de Pedrinhas. São eles Irismar Pereira, o Uroca, 31 anos; e o ex-policial militar Josuel Sodré Sabóia, o Sabóia, apontados, respectivamente, como o executor e articulador do crime. Uroca foi preso no dia 5 de janeiro, acusado de ser o mandante da morte do motorista da Taguatur, Ronielson Lima Pinheiro, o Roni, de 28 anos, em setembro de 2010, na Vila Embratel.
Sigilo - A certeza expressada pela polícia de que os irmãos Manoel de Jesus Martins Gomes e Antônio Martins Gomes têm participação direta na morte do líder quilombola, segundo o delegado Armando Pacheco, não se baseia apenas em depoimentos. As provas, no entanto, são mantidas sob sigilo. “Trata-se de um crime de grande repercussão, que cita não apenas pistoleiros, mas lideranças políticas e comunitárias, e que exige grande cuidado na divulgação das provas”, finalizou o delegado Pacheco.
Para Maymone Barros, o crime está elucidado, faltando apenas alguns detalhes para concluir o inquérito, como informações que definam a participação de outras pessoas nesse crime. “Desde novembro de 2010, estamos trabalhando nesse inquérito, que é muito complexo. Mas conseguimos as provas. sobre o envolvimento dos irmãos fazendeiros. Por mais que eles neguem, as provas são suficientes para comprovar o caso”, completou o delegado da DH, em entrevista à Rádio Mirante AM
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O fazendeiro Manoel de Jesus Martins Gomes, o Manoel de Gentil, já havia sido preso provisoriamente no dia 22 de fevereiro, por determinação da mesma juíza da Comarca de São João Batista, mas foi solto pelo Tribunal de Justiça do Maranhão, antes de o cumprimento de reclusão ter completado 24 horas. Na data, a soltura ao fazendeiro foi criticada pela Comissão de Direitos Humanos da OAB/MA.
Por: Saulo Maclean
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