Observatório de Favelas - O movimento de mulheres alcançou nas últimas décadas avanços significativos na luta por igualdade, liberdade e autonomia. Essas conquistas contaram com a força e a criatividade de inúmeras mulheres que, ao longo da história, tem contribuído para a afirmação de direitos e o enfrentamento das desigualdades sociais.
Mulheres que apostaram na construção coletiva e compreenderam que o espaço da disputa por direitos é o espaço da política. Reivindicando uma sociedade mais justa e igualitária, protagonizaram mobilizações de rua, desenvolveram produção conceitual e pautaram mudanças no executivo, no legislativo e no judiciário, que impactaram a vida da população brasileira e o imaginário social.
Entretanto, os indicadores de saúde, educação, trabalho, renda e participação em instâncias de decisão colocam em evidência que ainda existem grandes desafios para a promoção da equidade de gênero. Apesar de terem um maior nível de escolarização, as mulheres ainda encontram piores condições de trabalho, salários mais baixos e o acúmulo de atividades não remuneradas relacionadas à dupla jornada de trabalho.
A situação das mulheres negras é ainda mais grave, pois elas sofrem os efeitos da articulação das desigualdades de gênero com o racismo. As relações desiguais de poder entre homens e mulheres se expressam em diferentes formas de violação de direitos, que envolvem relações raciais, de gênero, geracionais e distinções territoriais.
Estas desigualdades muitas vezes se associam a processos de não reconhecimento da diferença. Entram em cena a hierarquização da cidadania e do próprio valor da vida, que têm contribuído para a naturalização e a legitimação da violência contra as mulheres e, em especial, as mulheres negras.
Nos últimos trinta anos, mais de 92 mil mulheres foram assassinadas no país. As maiores taxas de homicídios femininos se concentram na juventude negra. A isso se somam, as mortes decorrentes dos limites de acesso das mulheres negras aos serviços de saúde e de violações de seus direitos sexuais e reprodutivos.
As práticas de violência de gênero e de racismo institucional expressam relações de poder e dominação, seja sobre o corpo, a sexualidade, ou a própria vida, que são frutos desses processos de hierarquização social das relações raciais e de gênero.
Nesse contexto, é fundamental desenvolvermos estratégias que incidam sobre o campo das representações socioculturais e do reconhecimento político da diferença.
Experiências de valorização da estética negra são um bom exemplo disso. Desde sua origem, o Observatório de Favelas tem buscado contribuir para a construção de uma cidade marcada pelo reconhecimento das diferenças e pelo exercício pleno dos direitos para todas e todos. Isso implica o desafio de aliar a valorização da diferença com a construção da igualdade em termos de dignidade humana.
Nessa perspectiva, o investimento em políticas públicas voltadas para a superação das desigualdades de gênero e a promoção da igualdade racial é imprescindível para o avanço efetivo da realização de direitos e o aprofundamento da democratização da sociedade brasileira.
E é assim que esperamos comemorar mais esse dia 8 de março, o dia internacional das mulheres. Trata-se de viver mais esse dia fortalecendo toda a indignação por condições e direitos que ainda não foram alcançados por barreiras associadas ao sexismo e ao racismo. Mas ao mesmo tempo buscar proposições no campo das políticas públicas que possam, de fato, alterar favoravelmente a vida das mulheres e contemplar as especificidades das mulheres negras. É mais do que hora de unificar indignação com criatividade, construindo uma cidadania ativa que possa fazer diferença qualitativa na vida das mulheres e do conjunto do povo de nosso país. E é nesse sentido que apresentamos as matérias desse boletim, na expectativa de oferecer pistas para a construção de uma realidade que possa rumar pelo fim das desigualdades. Viva o dia internacional das mulheres, vamos celebrar.
Nenhum comentário:
Postar um comentário