De acordo com nota divulgada pelo Conselho Ka’apor, grupos armados tem sido avistados nas proximidades da aldeia onde, há alguns meses, foi assassinado Eusebio Ka'apor. Pressão de madeireiros continua intensa e marcada pela negligência do Estado
Ka'apor queimam madeira ilegal encontrada perto do território indígena (© Lunae Parracho / Greenpeace)
Nesta quarta-feira (23) o Conselho de Gestão Ka’apor soltou mais uma carta pública denunciando novas ofensivas contra a população indígena e a ausência do poder público na região. De acordo com o grupo, homens armados vem rondando algumas aldeias e o grupo tem enfrentado dificuldades para se movimentar entre as aldeias e pela cidade em segurança.
Na carta, o grupo lembra que desde 2013 vem realizando ações particulares de monitoramento e guarda de seu território, já que, mesmo com sucessivas denúncias, não houve resposta das autoridades.
“Depois de iniciar muito forte a fiscalização, limpeza de nossos limites, encontramos madeireiros, fazendeiros, estaqueiros, caçadores e posseiros que usavam nosso território sem autorização da gente. Esses agressores usavam e usam os limites ou áreas dentro de nosso território com permissão de funcionários da Funai, de prefeituras, do INCRA e de sindicatos para tirar madeira, colocar pastos, colocar roças grandes, tirar estacas para fazendas, para movelarias, para ceramicas, para panificadoras nas cidades”, revela o documento.
A carta detalha, ainda, que nas áreas retomadas pelos indígenas foram criadas ocupações, com finalidade de reflorestamento e controle do território. “Mas, depois que a gente criou essas áreas de proteção, agora a gente vem sendo impedido, perseguidos e até ameaçados de entrar nessas áreas por fazendeiros, pistoleiros, posseiros (incentivados por madeireiros e fazendeiros), alguns assentados do INCRA que, pressionados por madeireiros e fazendeiros, tem vendido seus lotes permitido a destruição de suas reservas”, ressalta.
De acordo com a denúncia, as principais áreas de conflito encontram-se nos municípios de Centro do Guilherme, Maranhãozinho, Santa Luzia do Paruá, Nova Olinda do Maranhão, Araguanã e Zé Doca.
Os indígenas relatam também que, desde semana passada, um grupo de seis homens armados, em três motos, foram vistos mais de uma vez na estrada que dá acesso a Aldeia Ximborenda, onde Eusebio Ka'apor foi assassinado em abril deste ano. O crime continua sem solução.
Há algumas semanas o Greenpeace esteve com os Ka’apor, para trabalhar junto com o grupo, que passou a integrar o uso de tecnologia às atividades autônomas de monitoramento e proteção do seu território tradicional. Entre as ferramentas sugeridas e adotadas pelas lideranças Ka’apor estão mapas mais precisos, armadilhas fotográficas e rastreadores via satélite.
“Essa ação ajuda a melhorar o controle dos indígenas sobre seu território, mas enquanto o poder público não fizer sua parte, proporcionando segurança, aumentando a fiscalização e investigando esses crimes bárbaros no campo, a violência nunca terá fim”, afirma Marina Lacôrte, da campanha Amazônia do Greenpeace. “Até quando ouviremos as denúncias e apelos do povo Ka’apor, sem que nada seja feito?”, questiona.
http://www.greenpeace.org/
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