segunda-feira, 24 de junho de 2013

60% do pescado consumido no Brasil é produzido em outros países

Cultura de pesca, preços e dificuldade de transporte explicam esta taxa


Com 8,5 mil quilômetros de costa, além de uma infinidade de rios e lagos, que correspondem a 13,7% da água doce do mundo, o Brasil concentra uma gigantesca biodiversidade aquática, conferindo ao país um grande potencial pesqueiro. Apesar disso, 60% dos peixes que os brasileiros consomem são importados de outros países da América do Sul, Ásia e Europa. Diversos fatores, desde a cultura de pesca no país, até dificuldades de transporte ajudam a explicar por que esse fenômeno acontece.
O salmão é uma das principais espécies de peixe importadas para o Brasil (Foto: Divulgação/ RBS TV)O salmão é uma das principais espécies de peixe
importadas (Foto: Divulgação/RBS TV)
Laurent Viguié, diretor do Marine Stewardship Council Brasil, órgão responsável pela certificação do peixe vendido no país, conta que os principais peixes importados são o salmão, do Chile; a polaca, pescada no Oceano Pacífico e processada na China; o peixe-panga, do Sudeste Asiático; e o bacalhau, pescado no Atlântico Norte.
Laurent explica que o consumo do bacalhau é alto pela cultura herdada de Portugal. Como o peixe não ocorre na costa brasileira, é preciso comprá-lo de produtores do Atlântico Norte. O mesmo ocorre com o salmão, que é produzido nas águas geladas da costa chilena. O que o diretor não consegue entender é a preferência pela polaca e pelo peixe pangua. “A preferência por esses peixes é difícil de explicar, uma vez que a costa brasileira tem espécies de melhor qualidade”, comenta.
Viguié levanta algumas teorias para explicar essa preferência. A primeira se refere à dificuldade e aos altos custos do processamento e transporte do peixe no Brasil. “É mais fácil uma rede de supermercados importar um peixe cortado e embalado do que comprar a pescada branca do Nordeste”, avalia. Essa dificuldade se deve aos custos altos cobrados pelos frigoríficos brasileiros, além das condições ruins das estradas e o transporte aéreo, que é muito caro dentro do país. “No interior, o consumidor prefere peixes em filé, sem espinha. Então é muito mais fácil importar peixes processados na China”, justifica.
Cultura de pesca no Brasil
Laurent destaca que a cultura de pesca no Brasil colabora para essa realidade. “80% da pesca no país é artesanal”. Por não realizarem uma atividade industrial, esses pescadores não possuem frigoríficos próximos, além de estrutura para o armazenamento dos peixes. Esses problemas impedem um transporte maior dessa carne para os principais mercados consumidores do Brasil: São Paulo, Rio de Janeiro e Brasília.
Para o Ministério de Pesca e Aquicultura, a atividade foi planejada tardiamente no Brasil. Enquanto pesquisas para melhores grãos e gado são desenvolvidas há algumas décadas, as pesquisas para melhorar a pesca no país são recentes. O próprio Ministério da Pesca e Aquicultura foi criado em 2009, enquanto o da Agricultura existe desde 1860.
De acordo com o ministério, existem cerca de 1 milhão de pessoas que dependem da pesca para viver no Brasil. Desde 2003, o governo realiza cursos de especialização com esses pescadores, além de alfabetização e da criação de telecentros, que levam internet para as comunidades pesqueiras. Mas ainda não é o suficiente. Laurent destaca que as dificuldades que os pescadores enfrentam para vender seu produto os fazem cada vez mais pobres. “Seus filhos têm cada vez menos futuro na indústria da pesca. Drogas, como o crack estão se tornando um problema real nessas comunidades”, alerta. O diretor afirma que o governo precisa investir mais na área, para dar algum futuro a essas pessoas.
Criação de peixes
Para aumentar a participação de peixes brasileiros nas mesas do país e melhorar as condições de vida dos pescadores, o governo está apostando na aquicultura. Não só peixes, mas mariscos, camarões e outros animais poderiam ser criados na costa, rios e lagos brasileiros. O ministério destaca que relatórios da ONU apontam que a pesca atingiu o limite, mas o consumo de peixes e mariscos não para de crescer no mundo.
Nos últimos anos, o potencial brasileiro para a aquicultura começou a ser explorado. Atualmente, cinco, das 200 grandes represas do Brasil tiveram parte de sua área destinada à produção de peixes. Estados estão simplificando a legislação para que produtores criem peixe em suas fazendas. Anteriormente, um fazendeiro precisava de uma autorização para isso, que chegava a demorar cinco anos para ser emitida. Hoje, estados como São Paulo, não exigem mais autorização para fazendas que destinem até 5 hectares para produção de peixes. E a tendência é que a medida se espalhe para outras regiões do Brasil.

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