O Terra da Gente deste sábado (31) faz uma viagem até uma das regiões mais selvagens do Brasil, as Reentrâncias Maranhenses. Trata-se de uma área com 12 mil quilômetros quadrados, no litoral do Maranhão, Área de Proteção Ambiental desde 1991. A região é entrecortada por ilhas, baias e manguezais e faz parte da Rede Hemisférica de Defesa das Aves, já que está numa importante rota de migração. A nossa equipe embarca numa viagem de exploração, junto com pesquisadores do Cemave, o Centro Nacional de Pesquisa para Conservação de Aves Silvestres. Pelo caminho, paisagens deslumbrantes, manadas de búfalos e pequenas comunidades de pescadores. O dia-a-dia dos moradores das Reentrâncias, vida simples e trabalho duro. A tarefa diária dos pesquisadores também não é fácil.
Eles enfrentam a lama e encaram uma vigília durante toda a noite para levantar informações sobre a rota das aves e as doenças que pegam carona nas longas viagens. A aventura termina na Ilha dos Lençóis, uma pequena comunidade cercada pelo mar e por mistérios. Na Hora do Rancho, receita especial para uma refeição rápida: batata recheada com queijo e presunto.
Programa 620 - Reentrâncias Maranhenses
Templo de enseadas e ilhas
Um santuário de vida selvagem no litoral do Maranhão. Território dos guarás, uma das aves mais belas do Brasil. Também parada obrigatória de viajantes que fogem do frio do Hemisfério Norte. A diversidade natural é uma das riquezas dessa região. Chegar até aqui é uma aventura tanto pelo ar como por terra.
A viagem começa no Terminal da Ponta da Espera, em São Luís, a capital do Estado. A travessia da Baía de São Marcos é feita em balsas, transporte utilizado por milhares de pessoas todos os dias. A travessia das águas profundas da Baía de São Marcos leva uma hora e meia. Do outro lado fica a Vila de Cujupe, no município de Alcântara.
O caminho até as Reentrâncias Maranhenses tem paisagens dominadas pelas palmeiras de babaçu. É uma imensa planície conhecida como região da baixada. Na época das chuvas, no primeiro semestre, as várzeas ficam cobertas de água e exigem um esforço muito grande das manadas de búfalos.
A rodovia nos leva até Apicum-açu, município de 14 mil habitantes, um importante centro de pesca no litoral Norte do Maranhão. Neste lugar encontramos uma equipe do Cemave, o Centro Nacional de Pesquisa para Conservação das Aves Silvestres.
Os pesquisadores ligados ao Instituto Chico Mendes preparam uma expedição pelas ilhas das Reentrâncias Maranhenses. Serão dez dias de trabalho, por isso a necessidade de muitos suprimentos. A viagem prossegue de barco e a primeira parada da expedição é a Ilha de Iguará.
No barco de pescadores, cada um se acomoda como pode. Não há conforto. Em compensação, a paisagem é preciosa. Mangue dos dois lados. O Maranhão é o Estado com a maior área de manguezais do Brasil. A geografia dessa região também é peculiar. Entre o município de Alcântara e a divisa com o Pará, um litoral recortado por enseadas e ilhas. Por isso, o nome de Reentrâncias Maranhenses.
Vida em isolamento
Uma extensa área da costa maranhense está dentro de uma unidade de conservação. A Reserva Extrativista de Cururupu tem uma área de 1.860 quilômetros quadrados. Ela foi criada há seis anos para garantir o uso dos recursos naturais por parte das comunidades de pescadores. Há muitas delas espalhadas por esse vasto litoral.
Na comunidade mais pobre da reserva não há energia elétrica. Nem água potável. E as palafitas são cobertas pela palha de uma palmeira muito conhecida no Nordeste, a Pindoba.
Dona Silvandira dos Santos é uma das moradoras. Na frente da casa dela, tambores plásticos reservam a água que vai ser consumida. De tempos em tempos, barcos trazem água do continente.
A chuva, nem precisa dizer, é sempre bem-vinda. Ela conta que a falta de água potável é o grande problema da comunidade. Muitos já foram embora por isso. "Governadores já fizeram muitos planos, mas só fica na fala. Fazer, que é bom, nunca fizeram".
A vida dos moradores só não é mais difícil porque o mar tem fartura de alimento. A pesca do camarão é a principal atividade econômica de Iguará. O camarão é desidratado antes de ser vendido. É uma forma de conservá-lo por mais tempo e de agregar valor ao produto.
Cada um dos sacos tem entre 20 e 30 quilos de camarão. Um trabalho que pode durar mais de seis horas, debaixo do Sol. Vida dura e de muito suor.
Lugar de revoadas
A comida farta e a posição estratégica dos manguezais na rota migratória fazem das Reentrâncias Maranhenses uma parada quase obrigatória para as aves que vêm do Hemisfério Norte.
É isso que também atrai o interesse dos pesquisadores do Cemave. A captura de aves é necessária para o monitoramento da migração e a pesquisa de doenças, como a gripe aviária. O trabalho deles começa com a montagem de grandes redes.
Quando escurece, as aves saem de outras partes da ilha, onde a maré está alta, e vem para cá, onde têm facilidade de encontrar alimento. Na escuridão, as lanternas são as guias.
Num primeiro momento, é difícil de estimar o número de aves capturadas nas redes, mas a quantidade é grande. Tirá-las da rede requer paciência em alguns casos. Os pesquisadores tomam o máximo de cuidado para não machucar os bichos. O trabalho dura a madrugada toda.
Os maçariquinhos são maioria. A ave, originária do Ártico, não passa de 18 centímetros de comprimento. Um pouco maior é o maçarico-vira-pedras, de bico curto e forte. É uma espécie que pode viajar 800 quilômetros num só dia. Mas antes de voltar, essas aves darão uma contribuição importante para a pesquisa do Cemave.
Elas são levadas para a cabana e transferidas para caixas. As aves são anilhadas. O número de identificação vai numa das patas e, no futuro, poderá dar informações importantes, como a idade (caso seja recapturada).
Os maçaricos estão entre as espécies que mais viajam durante as migrações. Podem vencer mais de 20 mil quilômetros do extremo de um hemisfério ao outro..
Para aguentar um deslocamento tão longo e cansativo, precisam ganhar muito peso. "Para poder acumular essa gordura, eles comem 24 horas, ininterruptamente. Dormem muito pouco, para ganhar peso mesmo! E esse acúmulo de gordura também é um estímulo sexual para espécie", explica o analista ambiental do Cemave, Elivan Arantes de Souza.
As aves não se reproduzem no Brasil. Voltam para acasalar no território de origem. É a plumagem que indica se elas já estão prontas para o caminho de volta. Depois do anilhamento, vem a biometria e a coleta de amostras das aves.
A primeira tarefa é a pesagem. Todas as informações são anotadas e vão para um banco de dados. Durante esse trabalho também são tiradas amostras de secreções e de sangue das aves. As amostras seguem mais tarde para o laboratório e os exames são processados, tanto por biologia molecular, como por sorologia, principalmente para detectar a presença ou não do vírus Influenza.
O momento de soltar as aves é sempre muito especial para os pesquisadores. Os maçariquinhos estão cansados e não voam de cara. Antes, precisam se recompor. Grande parte vai direto para o banho nos alagados. É bom mesmo aproveitar! A viagem de volta para casa é longa. E lá, próximo do Pólo Norte, não tem água quente como no Maranhão.
Ilha dos Lençóis
O dia começa cedo para os pescadores. Manhã de muito trabalho no mar. Para os pesquisadores da expedição, não será diferente. O cansaço está na cara e não é para menos. Eles passaram a noite no barco, que navegou durante todo tempo de Iguará à Ilha dos Lençóis.
O deslocamento foi feito durante a madrugada para aproveitar a maré cheia. A tripulação se acomodou no convés em redes e sacos de dormir. Com o dia, tem muito trabalho pela frente. O barco fica ancorado, enquanto a equipe de pesquisadores segue a pé para uma nova missão.
A caminhada leva às casas dos moradores dessa pequena comunidade, onde aves silvestres são capturadas e se espalham no quintal junto às aves domésticas.
A convivência pode transmitir doenças, como a gripe aviária, e atingir também o homem. Por isso, a necessidade de monitoramento dessas espécies. O Cemave faz esse trabalho há 18 anos nas Reentrâncias Maranhenses. As aves encontradas têm coletadas amostras de secreção e também de sangue para análise em laboratório.
Sob o signo das crenças
Lençóis é uma ilha cercada de mistérios, tradições e crenças. Muitos aqui afirmam que essas dunas escondem um reino encantado, onde vive Dom Sebastião. O monarca português nascido em 1554 desapareceu na batalha de Alcácer-quibir, no Marrocos, 24 anos depois. E teria escolhido a Ilha de Lençóis como morada. Segundo a crença dos mais antigos, ele aparece nas noites de Lua cheia na forma de um touro gigante.
Dona Nini, de 94 anos, é uma das moradoras mais velhas da comunidade. Para preservar as histórias contadas por ela e por outros narradores de lendas, foi criado o Memorial Rei Sebastião. A lenda do rei Sebastião contribuiu para tornar este lugar conhecido no mundo inteiro.
Viajantes de várias partes vêm para cá atraídos pela crença dos moradores e também por outro fato cercado de mistério: a existência de várias pessoas albinas na comunidade, o que fez com que Lençóis ganhasse o nome de Ilha dos Filhos da Lua.
A Ilha dos Lençóis já foi considerada a maior colônia de albinos no mundo. O pescador Joel de Oliveira conta que em 1949 existiam dez albinos na ilha. Hoje são seis. Quatro são crianças. São histórias do Maranhão, uma terra onde natureza e homem têm muito a nos ensinar.
Agradecimento:
ICMBio - Parque Nacional do Curupuru
Cemave/ ICMBio
Como chegar:
TROPICAL ADVENTURE
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www.tropical-adventure-expedicoes.com
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*O programa Terra da Gente é exibido pelas seguintes emissoras: EPTV (Campinas, Ribeirão Preto, São Carlos e Varginha-MG); TV TEM (São José do Rio Preto, SP; Sorocaba, SP; Bauru, SP e Itapetininga, SP); TV Fronteira (Presidente Prudente); TV Diário (Mogi das Cruzes, SP); TV Centro América (Cuiabá, MT); TV Centro América Sul (Rondonópolis, MT); TV Centro América Norte (Sinop, MT); TV Terra (Tangará da Serra, MT); TV Morena (Campo Grande, MS); TV Sul América (Ponta Porã, MS); TV Cidade Branca (Corumbá, MS); TV Grande Rio (Petrolina, PE); TV Asa Branca (Caruaru, PE) e TV Tapajós (Santarém, PA). Sobre dias e horários, consultar a programação da emissora local.
O Terra da Gente é exibido também para todo o Brasil, aos domingos, às 7:00h, via antena parabólica (o canal Superstation da Globo) e para 116 países dos 5 continentes pelo Canal Internacional da Globo.
Por: Terra da Gente
http://eptv.globo.com
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