Foto: © Vinícius Borba
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Sônia
Guajajara no Congresso Nacional.
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A voz de Sônia Guajajara é suave, mas carrega a força de
uma guerreira. Suas palavras são bem pronunciadas e expressam um
pensamento agudo como uma flecha. Nascida em 1974 em uma aldeia na parte
amazônica do estado do Maranhão, ela é hoje uma das principais
lideranças indígenas do Brasil.
É ela quem coordena a Articulação dos Povos Indígenas
do Brasil (Apib), entidade que organizou esta semana em Brasília uma
mobilização nacional que reuniu cerca de 1.500 representantes de
diversas etnias. Eles vieram se manifestar contra aquilo que ela chama
de “ataque sistemático aos direitos dos povos indígenas”.
Durante a mobilização na capital do país, Sônia Guajajara
foi recebida pela vice-presidência da República, falou diretamente à
presidência da Câmara, discursou no Senado e manifestou-se perante o
Supremo Tribunal Federal. Simbolicamente, ela esteve frente a frente com
os inimigos.
Os Três Poderes da República são hoje, em sua opinião, a
principal ameaça aos direitos dos povos e territórios indígenas. No
governo, há 20 decretos de homologação de Terras Indígenas parados na
mesa da presidente Dilma sem nenhum motivo jurídico ou técnico que os
impeça de serem assinados. Este foi o governo que menos demarcou Terras
Indígenas.
No Congresso Nacional, cerca de 100 iniciativas dos
parlamentares afrontam direitos indígenas. Os mais emblemáticos são o
marco legal da biodiversidade, o novo Código da Mineração – que pode
transformar parte dos territórios indígenas cobertos de florestas em
lavras a céu aberto para a extração de minérios – e a PEC 215, que tira
do Executivo e passa para o Legislativo a prerrogativa de criar Terras
Indígenas, Territórios Quilombolas e Áreas Protegidas.
“É uma proposta letal e grave. Os povos indígenas estão há
cinco séculos garantindo a permanência da cobertura florestal e a
manutenção da água limpa e a continuidade da vida desses que estão
querendo nos destruir”, afirma.
Na Suprema Corte, decisões parciais de anulação de
portarias declaratórias e decretos de homologação podem considerar como
marco de ocupação tradicional a data de 5 de outubro de 1988. Tal
interpretação, se confirmada, irá restringir os direitos territoriais de
muitos outros povos, aumentando decisões contra procedimentos de
demarcação de terras e o clima de conflitos e violências contra os povos
indígenas.
Para a líder Guajajara, o Estado brasileiro não sabe
dialogar com a diversidade. E está articulado contra direitos
consagrados na Constituição Federal. “É um ataque, e nós vamos nos
defender”, diz firmemente.
WWF: A senhora tem dito que o Estado brasileiro não
consegue dialogar com a diversidade que os povos indígenas brasileiros
representam. O que isso significa na prática?
Sônia Guajajara: O governo, o Congresso e o Supremo
[Tribunal Federal] insistem em nos considerar índios. E nós somos povos
indígenas. Há uma diversidade que precisa ser respeitada, que tem um
valor, e eles estão passando por cima de nossas tradições, nossos ritos,
nossa cultura que é diversa. Afrontando direitos.
WWF: E como isso se manifesta na prática?
Sônia Guajajara: É o caso do projeto de lei da
biodiversidade. Ele ruim como um todo para os povos indígenas. Ele
desagradou porque o governo negociou o nosso conhecimento tradicional
com as empresas. Esse conhecimento é nosso. Esse projeto de lei foi
feito de encomenda pelo governo federal para atender as indústrias de
medicamentos e cosméticos. Nós nunca fomos chamados para dar nossa
opinião. E ainda retiraram do texto a expressão “povos indígena”,
trocando por “populações indígenas”, contrariando a Constituição. O
governo também parou de demarcar nossas terras. Tem 20 processos prontos
para serem assinados na Presidência da República. Todos parados por
decisão de governo.
WWF: Que outras ameaças a senhora considera graves aos
povos indígenas?
Sônia Guajajara: A mais emblemática é a PEC 215, porque
teve mais visibilidade. Essa Proposta de Emenda à Constituição fere a
Constituição. Ela tira de órgãos como o ICMbio e a Funai a competência
de criar Terras Indígenas [assim como Territórios Quilombolas e Áreas
Protegidas], e entrega isso aos deputados. E sabendo que o Legislativo é
contrário os interesses indígenas, nunca mais teremos demarcação de
terras nesse país se ela for aprovada.
WWF: Apesar de serem as áreas de floresta mais bem
conservadas, seus territórios estão em risco?
Sônia Guajajara: Sim. E ainda tem o novo marco legal da
mineração, que quer abrir nossas terras para que as empresas venham
explorar, colocando em risco nossa integridade. A gente não tem que
negociar o direito do usufruto exclusivo dos povos indígenas, que a
Constituição garante.
WWF: O Supremo Tribunal Federal também joga contra os
indígenas?
Sônia Guajajara: O Supremo sempre foi nosso aliado mas tá
mudando. Ele agora suspende portarias declaratórias das demarcações de
Terras Indígenas. O STF deveria facilitar, mas está retrocedendo e
negando direitos territoriais, indo contra a Constituição brasileira.
WWF: Vocês se consideram cercados pelo Estado?
Sônia Guajajara: Este é o momento mais crítico que vivemos
porque os poderes [Executivo, Legislativo e Judiciário] estão
combinados. É um ataque sistemático aos nossos direitos.
WWF: E como vocês irão reagir?
Sônia Guajajara: Continuaremos mobilizados, organizado e
resistindo. Esse é o nosso jeito de assegurar nossos direito.
por Jaime Gesisky, do WWF Brasil
http://envolverde.com.br/
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