quinta-feira, 29 de março de 2018

Biomas do Cerrado, Caatinga e Pantanal correm perigo


Projetos hidroelétricos e desmatamento das matas ciliares arriscam os cursos d’água, dizem especialistas.
Forum Mundial Agua Ramilla Rodrigues 34Na ultimo dia 22/03, especialistas se reuniram no 8º Fórum Mundial das Águas, para falar como as ameaças aos biomas brasileiros podem comprometer o futuro das águas brasileiras. Embora o país seja detentor de mais de 10% da água doce do mundo e possua inúmeros aquíferos, a questão hídrica já passa a preocupar a sociedade brasileira.
Biomas como Amazônia, Caatinga, Pantanal e, principalmente, o Cerrado, o berço das águas brasileiras, correm perigo. O desmatamento é um fator determinante para o assoreamento dos rios amazônicos. “As matas ciliares protegem o rio da erosão e do assoreamento”, explica a representante do Instituto Amazônia Sustentável, Nayandra Pereira.
O Pantanal é um desses biomas que também pede socorro. A região do Pantanal possui um alto potencial hidroelétrico e atualmente 70% é utilizado com expectativa de colocar em funcionamento mais de 100 usinas hidroelétricas e barramentos fluviais. No entanto, conforme alerta a professora da Universidade do Mato Grosso (UNEMAT), Solange Ikeda, essa operação pode findar de vez os rios pantaneiros, ameaçando todo o bioma. “Para funcionar, as usinas alteram os cursos d’água, os meandros dos rios que são fundamentais para que seja mantido o ciclo natural do Pantanal, de cheia e vazão”, esclarece Ikeda.
Um destes exemplo foi o que aconteceu no dia 29 de setembro de 2002, a cidade de Jauru parecia viver um velório ante às montanhas de escamas brilhantes formadas pelos peixes. Eles estavam amontoados não pela destreza dos pescadores que vivem há gerações daquelas águas, mas sim porque não havia mais nada além do leito seco. Em pleno Pantanal brasileiro, uma das maiores áreas úmidas do mundo, um rio outrora caudaloso e cheio de vida secou. Isso ocorreu quando a Usina Hidrelétrica de Jauru fechou as comportas, estancando todas as fontes que davam vida àquele rio.
Áreas Protegidas podem ser a solução
Para proteger os rios dessas ameaças, as áreas protegidas cumprem um papel importante ao frear o avanço do desmatamento e por consequência a erosão que compromete os rios. Também resguardam os pontos de penetração da água dos aquíferos subterrâneos e garantem a continuidade das atividades de pesca e extrativismo das populações tradicionais.
Para o diretor de Ações Socioambientais e Consolidação Territorial do ICMBio, Claudio Maretti, é preciso também pensar no potencial das águas durante o processo de criação das unidades de conservação. “Temos conceitos e práticas para criar e gerir UCs, mas eles são essencialmente terrestres. Fizemos algumas adaptações para o mar, mas precisamos pensar nisso para os ecossistemas fluviais”, elucida Maretti. “Usar a convenção RAMSAR, por exemplo, é uma oportunidade para aprimorar nosso conhecimento sobre sistemas de água doce”, pontua.

Ramilla Rodrigues
ramilla.rodrigues@icmbio.gov.br
ICMBIO

Brasil tem três novas áreas reconhecidas como sítios Ramsar

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O Brasil reconheceu três novas áreas úmidas como Sítios Ramsar, título que promove a proteção e a sustentabilidade de habitats aquáticos em todo o mundo. Foram reconhecidos o Parque Nacional Marinho de Fernando de Noronha, a Bacia do Rio Negro, no Amazonas e os manguezais da foz do Rio Amazonas.
O anúncio foi feito hoje (22) pelo diretor do Departamento de Ações de Consolidação Socioambiental e Territorial do Instituto Chico Mendes de Biodiversidade (ICMBio), Cláudio Moretti, durante sessão especial no 8º Fórum Mundial da Água. Com a inclusão desses três sítios aos 22 já existentes, o Brasil é o país que detém a maior extensão em áreas reconhecidas como Sítio Ramsar.

O título internacional contribui para que essas regiões conquistem novas parcerias, acordos de cooperação, apoio às pesquisas e obtenção de financiamento a projetos de preservação e conservação ambientais.
O diretor do ICMBio disse que o Brasil deve melhorar a gestão de recursos hídricos em unidades de conservação. “Não basta ganhar o reconhecimento, temos que entender como gerir essas áreas para atender os objetivos de proteção dessas áreas úmidas de importância internacional. Isso significa que é uma oportunidade usar a convenção Ramsar para melhorarmos o nosso conhecimento básico e a nossa prática de como criar e gerar áreas protegidas no contexto de fluxos hídricos de água doce”, disse Moretti.

Biomas

Durante a sessão, foram discutidos os desafios para a proteção de biomas no Brasil. Na Amazônia, além do combate ao desmatamento, um dos maiores desafios é a dificuldade de gestão dos recursos hídricos, tanto pelo tamanho da bacia quanto pelo fato de ela pertencer a vários países.
“Ter representatividade dos diversos atores que tem poder de decisão em cima daquela bacia é um grande desafio”, disse a representante do Programa de Soluções Inovadoras na Fundação Sustentável da Amazônia, Nayandra Kellen Pereira. Segundo ela, é preciso achar alternativas para o modelo de gestão de bacias existente no país, como a formação de comitês de microbacias.
Ela também ressaltou a necessidade de investir nas pessoas e nos saberes tradicionais da Amazônia. “Essas pessoas detêm um conhecimento de problemas que estão realmente acontecendo e são as melhores pessoas que podem se unir para proteger essas áreas. Investir nessas pessoas, fazer com que elas tenham acesso a políticas públicas e qualidade de vida é a chave para que elas não queiram desmatar”, disse.
A especialista disse que a Amazônia tem papel fundamental em toda umidade da América do Sul. A cada dia 20 bilhões de toneladas de vapor de água são emitidos da floresta. “Isso é mais do que a gente tem na própria bacia”, diz.

Pantanal

No Pantanal, as maiores ameaças atualmente são a possibilidade de construção de novas usinas hidrelétricas e de uma hidrovia Paraná-Paraguai, que está em processo de licenciamento.
“A comunidade já se colocou contrária por conhecer o que significa o curso de inundação do Pantanal. Sem os meandros, que são as curvas do rio, e, se aprofundarem o canal do rio, não vamos mais ter o Pantanal”, disse a professora da Universidade do Estado do Mato Grosso (Unemat), Solange Castrillon.
Segundo ela, o planejamento energético do país prevê a construção de 100 novas pequenas centrais hidrelétricas na região.

“O governo deve perceber que a instalação dessas hidrelétricas que estão sendo planejadas, assim como o projeto de hidrovia Paraná-Paraguai vai inviabilizar o Pantanal. Nós não estamos em um bioma isolado, temos em uma conectividade entre todos os biomas, cerrado, pantanal, mata atlântica”, ressaltou a especialista.

Da Agência Brasil