quarta-feira, 3 de agosto de 2016

Carta do povo Ka’apor

 “Não aceitamos ser tutelados, estamos organizados....Respeitem nosso jeito de ser, viver e se
organizar em nossa casa, nosso territorio e proteger nossa floresta”
 
Nós povo Ka’apor sabemos cuidar, viver e proteger nosso territorio, cultivamos a vida e
fazemos isso a mais tempo do que os livros dos Kamara contam. Fazemos a nossa parte, mas o
governo ainda não fez a parte dele. Ficamos ameaçados se o governo não faz a parte dele e
ainda fica interferindo em nossa organização e não respeita nossos direitos. Por isso a gente
quer falar um pouco para o Brasil o que acontece com a gente, por que lutamos e não aceitamos
mais ser mandado e controlado pelo governo.
A Terra Indígena Alto Turiaçu é uma pequena parte do grande território que a gente vivia
antes ser invadido, tomado a força da gente, perseguindo e matando nossos parentes, e o
governo nem consultou a gente. Por isso que a gente continua lutando pra não perder o que
temos.
Lutamos sozinhos durante esses anos, enfrentamos e expulsamos madeireiros. Por causa
disso, mataram 5 lideranças, agrediram e atiraram em nossos guardas florestais, invadiram duas
aldeias, madeireiros sequestraram Iraúna ka’apor, estão ameaçando matar mais de 8 lideranças
e apoiadores de nossa luta em defesa de nosso território. Tudo isso denunciamos para os órgãos
do Estado, para Funai, IBAMA, para Policia Federal, MPF em São Luís e para relatora da ONU em
Brasília.
Agora nossos inimigos não conseguem entrar com tratores, jericos, motosserras,
caminhões, atirar na gente. Estão usando funcionários da Funai e de outros órgãos do governo
do Estado para dividir nossas lideranças, tirar nossa atenção de proteger nosso território, acabar
com nossa organização e jeito de proteger nosso território. Eles estão fazendo reuniões, falam
mal de nossa organização, querem tirar Itahu Ka’apor da CTL Zé Doca, acabar como nosso
Conselho de Gestão Ka’apor, tomar e controlar nossa associação, afastar nossos apoiadores e
parceiros, prometendo dar estrutura para aldeias e mudar o jeito de trabalho dos Ka’apor. Eles
deveriam seguir o que o juiz mandou que é criar bases de vigilância e fiscalização em nosso
território, prender os assassinos que mataram nossos parentes esses anos, investigar o sumiço
de nossa parente Iraúna Ka’apor, dar condições para os Kamara que moram perto de nosso
território viverem bem para não explorar nosso território.
Desde 2009 a gente vem organizando nossa educação, saúde, assistência, protegendo
com mais força nosso território e melhorando nossa alimentação. Em dezembro de 2013 em
nossa assembleia decidimos voltar nossa forma tradicional de se organizar, decidir, proteger
nosso território e viver sem ameaçar e destruir a floresta. Criamos o Conselho de Gestão Ka’apor
que representa nossos antigos TUXÁ. Nossos Tuxá são guerreiros, guardam nossos costumes, nossa
cultura original, trabalham para nosso povo servindo e protegendo nossa cultura e território. Nessa
assembleia escolhemos um grupo de lideranças. A gente vem acompanhando o trabalho de todos.
Criamos um Acordo de Convivência interno que diz que nosso povo, nossas lideranças não podem falhar
com nossa cultura e adotar a cultura, costumes dos Kamará que enfraquece nossa cultura, nossa vida e
ameaça nosso território.
Não vamos aceitar que essas pessoas que chegaram no final do ano passado destruam nosso
trabalho e organização que construímos com suor, muita luta pra melhoria de nossa vida. Assim como
não aceitamos os ataques contra nossos parentes Guarany Kaiowá, Tupinambá, Munduruku, Pataxó
Hãhãhãe, Gamela e outros.
Nosso Conselho de Gestão Ka’apor visitou, consultou e reuniu com a maioria dos conselhos das
aldeias e todos decidiram que:
- O nosso Conselho de Gestão Ka’apor quem escuta e decide pelo nosso povo
- Manter e continuar criando Conselho nas Aldeias
- Manter e ampliar nossa Guarda Florestal Ka’apor
- Manter e ampliar nossos Ka’a usak ha ta – Áreas de Proteção Ka’apor com sistemas solares
- Manter e ampliar nossos Agentes Agroflorestais Ka’apor
- Manter e ampliar nossas experiências de Agrofloresta Ka’apor em nossas áreas de Proteção
valorizando nossa cultura tradicional para a criação de nossa Ma’e Hain rok (Casa de Sementes)
- Manter nosso Centro de Formação Saberes Ka’apor como espaço de Educação e Formação Ka’apor
- Manter nosso jeito de Educar e organizar como orienta nosso Projeto Pedagógico e Curricular Ka’apor
- Manter e maior respeito aos nossos Gestores de Educação Ka’apor
- Manter nossa participação na Gestão de nosso Polo Base de Saúde Indígena com orientação de nosso
Pajés
- Manter Itahu Ka’apor na Coordenação Técnica Local e Gestor em nossa Assistência Social
- Manter as parcerias e apoios na educação, saúde e proteção territorial
- Manter a gestão territorial e ambiental pelos Agentes Agroflorestais e Guardas Florestais
Ka’apor
Não aceitamos que funcionários do governo mande, controle, divida e destrua nosso povo e
nossa organização.
Não aceitamos nenhum golpe! Vamos continuar lutando em defesa de nossa autonomia,
floresta e território!
Aldeia Ximborenda, 17 e 18 de julho de 2016.
Conselho de Gestão Ka’apor.
Conselho da Aldeia Ximborenda,
Conselho da Aldeia Waxiguirenda,
Conselho da Aldeia Zé Gurupi,
Conselho da Aldeia Bacurizeiro,
Conselho da Área de Proteção Jumu’eha renda Keruhu ou Centro de Formação Saberes Ka’apor,
Conselho da Área de Proteção Ywyãhurenda,
Conselho da Área de Proteção Ypahurenda,
Conselho da Área de Proteção Jaxipuxirenda,
Conselho da Área de Proteção Eirhurenda,
Conselho da Área de Proteção Akadju’yrenda,
Lideranças Aldeia Capitão Mirá,
Lideranças Aldeia Piquizeiro,
Lideranças Aldeia Cumaru,
Lideranças da Área de Proteção Tawaxirenda

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