sábado, 11 de setembro de 2010

Carta do Canto Verde sobre Justiça Climática no Nordeste


Prainha do Canto Verde(foto: Camila Garcia)


Nós, povos e comunidades tradicionais e organizações da sociedade civil, presentes na Oficina Justiça Climática no Nordeste: afirmação dos territórios tradicionais como estratégia para o enfrentamento da crise climática¹ , acontecida na comunidade da Prainha do Canto Verde- Beberibe/CE nos dias 26 e 27 de agosto de 2010, consideramos que o tema das mudanças climáticas não pode ser como um quadro branco no qual se vai tentando riscar novas teorias para fatos já muito bem conhecidos por nós. As mudanças climáticas impactam diretamente em nossos espaços territoriais e vida cotidiana, e, portanto não é um debate que se encerra apenas no campo da ciência e da macropolitica.



Além disso, tais mudanças no clima assim como as injustiças ambientais de um modo geral, são resultadas de um modelo de sociedade capitalista ocidental, pautado na apropriação privada dos bens naturais, na acumulação e concentração de riqueza e na geração de muitas desigualdades. Esse modelo se manifesta das mais diferentes formas: no agro e hidronegócio; no uso indiscriminado dos agrotóxicos e seus venenos; no turismo de massa; nos complexos portuários; nas atividades de mineração; nas hidrelétricas; nas indústrias siderúrgicas e petroquímica e tantas outras que destroem nossas florestas; nossa catinga; nossos manguezais; poluem águas e solos e destrói muitas vidas.



Os modos de vida desses povos e comunidades nos territórios étnico-ambientais, em diferentes biomas como a Zona Costeira, a Caatinga e o Cerrado e outros, possibilitou um manejo dos recursos naturais que integra sociedade e natureza de forma que as temporalidades sócio-econômicas de um não aniquilem as temporalidades físico-ambientais do outro.



As populações e povos tradicionais em suas diversidades, indígenas, quilombolas, caiçaras, agriculturas e comunidades pescadores e pescadores, agroextrativistas e outras, constroem saberes e formas de viver e se relacionar com os ecossistemas valorizando e garantindo a biodiversidade. Nossas culturas estão fortemente vinculadas aos ciclos e processos naturais dos biomas onde vivemos. A despeito de sua importância para a existência da vida no planeta, os biomas e suas populações tradicionais, encontram-se ameaçadas pelo autoritarismo do modelo mercadológico. Embora nossa forma de ser e de viver tenham garantindo ao longo da historia a manutenção dos ecossistemas, são consideradas atrasadas e transitórias. Nossos saberes, conhecimentos e necessidades não são considerados na elaboração das políticas e nos processos de tomada de decisões sobre os rumos do mundo e da economia. O estado por sua vez, tem sido um dos principais agentes desse modelo, investindo, financiado e incentivando os responsáveis pelas mudanças climáticas, catástrofes e outras injustiças sociais e ambientais. Essa violência por parte do Estado atinge diretamente os povos e comunidades que tradicionalmente não vivem da venda de sua força de trabalho, mas do manejo equilibrado dos bens ambientais.



As respostas dadas pelos organismos financeiros multilaterais, governos e grandes grupos econômicos não interferem nas estruturas desse modelo de desenvolvimento, são soluções de mercado para se garantir frente as crises ambientais e, dentre elas as mudanças climáticas. E mais uma vez as populações que não decidiram sobre os rumos dos processos econômicos e são as principais atingidas por seus impactos, são deixadas de fora ou a margem dos espaços e processos oficiais de construção de propostas de enfrentamento das mudanças climáticas. Entretanto, sãos as praticas e formas de viver dessas populações que demonstram outras lógicas de sociedade e outras formas de relação com a natureza. Essas formas tradicionais de ver e de viver no mundo garantem justiça social, ambiental e climática.



ASSINAM ESTA CARTA:



Associação de Moradores Prainha do Canto Verde



Associação dos Moradores de Brasília Teimosa



Associação dos Produtores de Algas de Flecheiras e Guarijú – APAFG, Ceará



Brasil Iniciative Freibuze V.



Cáritas



Centro de Cultura Negra do Maranhão



Centro de Formação Mandacarú de Pedro II



Centro Regional de Assessoria e Capacitação - CERAC



Cordenadoria Ecumênica de Serviço - Cese



Coordenação Nacional de Comunidades Negras Rurais Quilombolas - Maranhão



Fórum Carajás



Fórum Cearense de Mulheres



Fórum em Defesa da Vida no Baixo Parnaíba Maranhense



Fórum em Defesa da Zona Costeira do Ceará



Instituto Terramar



IRPAA- Inst. Agropecuária Apropriada



Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra – Alagoas



Movimento Nacional de Pescadores - MONAPE



Núcleo Tramas/UFC



Organização Popular de Aracati



Povo Indígena Tabepa - Ceará



Povo Indígena Tremembé de Almofala – Ceará



Rede de Educação Ambiental do Litoral Cearense – REALCE



Rede Nacional de Advogadas e Advogados Populares



Sociedade Maranhense de Direitos Humanos



¹Atividade realizada pelo Programa Direito a Terra, Água e Território (DTAT), formado pela Organização Intereclesiástica de Cooperação para o Desenvolvimento (ICCO) e 14 organizações no Brasil.



www.terramar.org.br

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